Polémica a volta
da presidente do Banco Central
Bissau, 20 set 19 (ANG) - A escolha
de Christine Lagarde, ex-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional,
para o comando do Banco Central Europeu
(BCE) continua gerando polêmica, apesar de sua nomeação ter sido aprovada esta
semana pelo Parlamento Europeu.
Há quem diga que uma certa dose
de misoginia e inveja sustentam essa falta de consenso.
Para alguns especialistas em política monetária, a designação de
Lagarde representa uma vitória; outros hesitam diante de sua indicação por
causa de sua gestão nas crises grega e argentina.
Os mais críticos afirmam que Christine Lagarde é advogada e não
economista, nunca ocupou a chefia do Banco da França, o que é considerado um
antecedente natural para quem, a partir de novembro, vai controlar a terceira
maior área econômica do mundo, a zona do euro.
Segundo eles, o receio é que no caso de uma profunda crise na
zona do euro ela não tenha a competência necessária para estancar o processo.
Christine Lagarde, a
primeira mulher a presidir o Banco Central Europeu, vai assumir o comando em
uma época de grande incerteza econômica. A escalada de tensão na guerra
comercial – mas também tecnológica e cambial - entre EUA e China aumenta o medo
de uma desaceleração global.
A disputa sino-americana ameaça contagiar a economia mundial,
que já está em pleno desaquecimento. Além disso, o risco de um Brexit – saída do
Reino Unido da UE - sem acordo é um cenário caótico tanto para o Reino Unido,
quanto para a União Europeia.
A previsão de crescimento na zona do euro é de apenas 1,2% em
2019, e 1,4% no ano que vem. Bruxelas reduziu em um décimo as projeções de
crescimento para as maiores economias do bloco em 2020. Outro aspecto que
inquieta o BCE é a inflação.
Desde 2013, a taxa de inflação na zona do euro está
sistematicamente abaixo da meta do BCE, que deve ser bem próxima aos 2%. Este
mês, a inflação na zona do euro atingiu o menor nível dos últimos dez anos, o
que indica falta de confiança na política monetária do BCE.
Uma das missões de Christine Lagarde será a de justamente
recuperar a credibilidade da instituição.
Lagarde foi a primeira
mulher a assumir a liderança da outra instituição financeira de peso, o Fundo
onetário Internacional(FMI). Em 2011, ela substituiu Dominique Strauss-Kahn,
que deixou o cargo após ter se envolvido em um escândalo sexual.
Christine Lagarde deixa o FMI após um mandato de oito anos, com
elogios mas também críticas por um grande fracasso: a atual crise argentina.
Na gestão de Lagarde, o FMI concedeu US$ 57 bilhões, o maior
empréstimo de sua história, à Argentina para que o presidente Maurício Macri
pudesse fazer reformas estruturais para reerguer a economia de seu país. Houve
pressão do presidente americano, Donald Trump, no FMI em favor do “parceiro
estratégico” dos EUA no Cone Sul.
Com inflação acumulada de 54,5% nos últimos doze meses, a
Argentina hoje está à beira do abismo e declarou moratória da dívida. Para o
jornal britânico Financial
Times, um dos mais influentes porta-vozes do establishment
financeiro mundial, "o FMI colocou sua reputação em risco na
Argentina".
Christine Largarde foi uma das líderes decisivas na crise da
Grécia. O país, profundamente afetado pela crise financeira mundial de 2008,
aceitou um duro plano de austeridade.
Na época, Lagarde era ministra das Finanças na França e cooperou
com a política rígida imposta pela troika - Comissão Europeia, FMI e BCE – aos gregos.
No total, a Grécia recebeu € 273 bilhões (US$ 318 bilhões) em três programas de
ajuda financeira.
No mês passado, Lagarde, ainda chefe do FMI, anunciou o fim da
tutela imposta ao país. Enfim, a Grécia pode voltar a respirar aliviada, apesar
da nação continuar no vermelho em várias áreas.
Uma década após a crise financeira de 2008, que abalou a
economia mundial, Lagarde chega ao comando do Banco Central Europeu com enormes
desafios intelectuais e políticos pela frente. Na sabatina diante do Parlamento
Europeu, ela prometeu seguir os mesmos princípios do atual presidente da
instituição, Mario Draghi, e enfatizou ter margem para fazer mais.
Lagarde lembrou que “a inflação na zona do euro está
persistentemente baixa e que é recomendável a manutenção de uma política
monetária altamente acomodatícia na região”. A futura presidente do BCE
acredita que os países ricos devem gastar mais ajudando os Bancos Centrais a
protegerem suas economias.
Christine Lagarde espera que o Brexit tenha um impacto limitado
no acesso aos serviços do setor financeiro da zona do euro.
O papel do BCE é garantir
a estabilidade dos preços, ou seja, proteger o valor do euro.
A nomeação de Lagarde para um mandato de oito anos no Banco
Central Europeu deve ser oficializada na próxima reunião dos líderes europeus,
nos dias 17 e 18 de outubro. ANG/RFI
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