Bissau,20 Abr.20(ANG) - A diretora-nacional do Banco
Central dos Estados da África Ocidental para a Guiné-Bissau, Helena Nosolini
Embaló, considerou no último fim de semana que o "choque" económico
da crise sanitária no país pode ser mais profundo do que em outros países da
sub-região.
“No conjunto das oito economias da
sub-região, na Guiné-Bissau o choque poderá ser muito mais profundo porque a
nossa economia tem suas especificidades ou se quisermos ser mais precisos, as
suas debilidades que a tornam muito vulnerável”, afirmou Helena Nosolini Embaló, em entrevista à Lusa.
A
Guiné-Bissau, que faz parte da União Económica e Monetária da África Ocidental
(UEMOA), que inclui também o Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger,
Senegal e Togo, tem uma forte dependência do processo de comercialização e
exportação da castanha de caju, que representa mais de 90% das exportações do
país.
“Ora, sendo as
incertezas e os riscos quanto à campanha deste ano enormes, haverá
consequentemente implicações graves, sendo certo que esta atividade dinamiza
quase todos os setores da vida económica nacional”, disse Helena Nosolini
Embaló, salientando que a campanha de comercialização de caju é uma “forte
alavanca para as finanças públicas do país”.
Segundo
a diretora-nacional do BCEAO na Guiné-Bissau, ao cenário de incerteza em
relação à campanha de comercialização de caju acresce o facto de quase tudo o
que é consumido na Guiné-Bissau vir do exterior.
“As
restrições no comércio internacional terão um forte impacto e vão afetar um
grande número de famílias, sobretudo as que vivem abaixo do limiar da pobreza”, sublinhou.
Helena
Nosolini Embaló destacou também que o peso “muito significativo” do setor
informal no país pode “dificultar o monitoramento e a aplicação de medidas de
mitigação”.
“Com as medidas de contenção implementadas
e necessárias todas as atividades serão impactadas e a escala poderá ser maior
para as pessoas com empregos precários, principalmente no setor informal”, disse.
Para a
responsável, em todas as economias a “perda de empregos será muito
significativa e constituirá um grande desafio” para os países da UEMOA.
O Fundo
Monetário Internacional (FMI) considerou na quarta-feira a covid-19 como uma
“crise sem precedentes” para o continente africano, prevendo uma diminuição do
rendimento ‘per capita’ em 3,9%.
A nível
global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 157 mil mortos e infetou
mais de 2,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 502 mil
doentes foram considerados curados.
A
doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em
Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para
combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas
(mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e
reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da
economia mundial.
Face a
uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns
países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns
casos, como Dinamarca, Áustria ou Espanha, a aliviar algumas das medidas.
Por
regiões, a Europa soma mais de 100 mil mortos (mais de 1,1 milhões de casos),
Estados Unidos e Canadá mais de 39.165 mortos (mais de 750 mil casos), a Ásia
6.882 mortos (mais de 160 mil casos), o Médio Oriente 5.465 mortos (mais de 121
mil casos), a América Latina e Caribe 4.384 mortos (mais de 92 mil casos),
África 1.052 mortos (mais de 20 mil casos) e a Oceânia com 86 mortos (mais de
sete mil casos).
Entre
os países africanos lusófonos, Cabo Verde lidera em número de infeções, com 56
casos e uma morte.
A
Guiné-Bissau contabiliza 50 pessoas infetadas pelo novo coronavírus e
Moçambique tem 34 casos declarados da doença.
Angola
tem 24 infetados e já registou dois mortos. São Tomé e Príncipe, o último país
africano de língua portuguesa a detetar a doença no seu território, tem quatro
casos.
Na
Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), estão confirmados 51 casos positivos de infeção.ANG/Lusa
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