Comunicação social/Guiné-Bissau com maior queda na liberdade de imprensa
Bissau,22 Abr.20(ANG) - A liberdade de imprensa
deteriorou-se em três dos nove países lusófonos, com a Guiné-Bissau a sofrer a
maior queda e Timor-Leste a registar a subida mais acentuada no índice anual da
organização Repórteres Sem Fronteiras, divulgado terça-feira.
De
acordo com o índice que classifica a liberdade de imprensa no mundo e avalia
180 países, entre os países lusófonos, Guiné-Bissau, Brasil e Moçambique
registaram piores resultados do que na avaliação anterior, enquanto Portugal,
Timor-Leste e Angola melhoraram e Cabo Verde e Guiné Equatorial mantiveram as
posições do índice anterior.
A
Guiné-Bissau, que este ano surge no 94.º lugar, caiu cinco posições.
Os
Repórteres sem Fronteiras (RSF) consideram que "o impasse político"
que se vive no país tem sido "um obstáculo à liberdade de imprensa".
A
organização assinala a ocupação, no início de 2020, da sede da rádio e
televisão nacionais por militares próximos do autoproclamado Presidente da
Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, no contexto da crise política surgida após
a segunda volta das presidenciais de dezembro de 2019.
Na
avaliação dos RSF, os media e jornalistas do país continuam "extremamente
vulneráveis" às pressões políticas e económicas, o acesso livre à
informação não está garantido e prevalece a autocensura na abordagem às falhas
governamentais, ao crime organizado e à influência dos militares na sociedade.
O
índice regista ainda a queda de dois lugares do Brasil, que passou do lugar
105.º para 107.º, e de uma posição de Moçambique (do 103.º para o 104.º).
Os RSF
consideram que o Brasil permanece um país "particularmente violento"
para a imprensa.
"O
Presidente Bolsonaro, os seus próximos e vários membros do governo insultam e
humilham regularmente alguns dos mais importantes jornalistas e media do país,
promovendo um clima de ódio e desprezo pelo jornalismo", adianta a
organização.
Em
Moçambique, os RSF denunciam "fortes pressões" e "agressões
frequentes" a jornalistas independentes.
Assinalam,
por outro lado, a "quase impossibilidade" de os jornalistas acederem
ao norte do país, onde grupos armados têm atacado localidades, pilhado e matado
civis, adiantando que dois jornalistas que o tentaram fazer ficaram detidos
durante quatro meses em 2019.
Apontam,
por outro lado, a cada vez maior dificuldade de os jornalistas estrangeiros em
obterem acreditações para trabalhar no país.
Em
sentido oposto, Timor-Leste subiu seis posições no índice, passando da 84 para
a 78, com a organização a assinalar que a cobertura "relativamente
livre" de episódios de instabilidade do governo nos anos 2019-2020
"permitiu destacar o papel do pluralismo dos meios de comunicação no
exercício da democracia timorense".
Ainda
assim, assinala a organização, os jornalistas enfrentam "processos na
justiça como forma de intimidação, violência policial e difamação pública"
por parte das autoridades.
Angola
subiu três posições na classificação, passando da 109 para a 106.
Os RSF
destacam "os sinais encorajadores" dados com a absolvição de
jornalistas de investigação em 2018, mas assinalam que "os quatro canais
de televisão, as rádios e os cerca de vinte títulos da imprensa escrita
permanecem, em grande parte, sob o controle ou a influência do governo e do
partido no poder".
"A
censura e a autocensura permanecem muito presentes", apontam os RSF,
acrescentando que os "custos exorbitantes das licenças de rádio e
televisão são um freio ao pluralismo" dos meios de comunicação
angolanos".
Portugal
melhorou também a sua avaliação, passando da posição 12 para a 10 num total de
180 países.
Cabo
Verde (25º), o segundo país lusófono melhor classificado no índice, e a Guiné
Equatorial (165º), o pior, mantiveram as respetivas classificações.
Sobre
Cabo Verde, os RSF destacam a diminuição do controlo político sobre os órgãos
de comunicação públicos, apontando a decisão do Governo de abdicar da nomeação
dos administradores da televisão estatal, que passam a ser escolhidos por um
conselho independente.
Sobre a
Guiné Equatorial, os RSF denunciam o "controlo total dos media" pelo
Governo e a "censura generalizada", destacando a detenção de dois
jornalistas por terem realizado uma entrevista.
Os
jornalistas, que trabalhavam para uma televisão privada propriedade do
vice-presidente do país e filho do Presidente, "Teodorin" Obiang,
foram, entretanto, libertados, mas não regressaram ao trabalho.
Dos
países lusófonos, o relatório não refere São Tomé e Príncipe.
Publicado
desde 2002, o índice dos Repórteres Sem Fronteiras fornece uma panorâmica da
liberdade de informação em 180 países e territórios.
O
índice avalia o desempenho dos países em termos de pluralismo e independência
dos meios de comunicação social, ambiente e autocensura, enquadramento legal,
transparência e qualidade das infraestruturas de apoio à produção de
informação.ANG/Lusa
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