Sahel/União Africana apela «ao diálogo com os extremistas»
Bissau, 16 Out
20 (ANG) - Um alto responsável da União Africana,
Smail Chergui apela « ao diálogo com os extremistas» para
silenciar as armas no Sahel, após oito anos de crise sem um fim à vista,
escreve esta sexta-feira o jornal Le Monde.
«O Terrorismo e as violências entre a
comunidade persistem e ameaçam de se espalhar por África Ocidental», declarou Smail Chergui, comissário para a Paz e
Segurança da União Africana, num editorial publicado esta quarta-feira, 14 de
Outubro, no jornal suíço Le Temps.
Esta declaração surge no momento da
recente troca de cerca de duzentos jihadistas detidos pelo governo do Mali em
troca de quatro reféns- o dirigente da oposição Somaila Cissé, a francesa
Sophie Pétronin e dois italianos- que veio relançar as especulações sobre a
possível retoma de contacto com os jihadistas.
«A violência, quase diária, associada às
constantes violações dos direitos humanos, põe, por um lado, as comunidades
umas contra as outras, e por outro, coloca essas mesmas comunidades em
confronto com as forças de defesa e segurança», escreve Smail Chergui.
Segundo Smail Chergui, desde o início da
crise no Mali, em 2012, que a crescente presença militar – França; ONU e a
força antijihadista do G5 Sahel (Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade)
não conseguiram produzir quaisquer avanços decisivos no terreno.
Os parceiros que se deslocaram ao Sahel «inicialmente
por um curto período», lembra o responsável africano, numa alusão à força
francesa «Barkane», «ainda hoje se matêm no terreno».
«Chegou o momento de revisitar e adaptar
estratégias de estabilização da região so Sahel», continua. «Todas as ideias inovadoras são
bem-vindas para fazer silenciar as armas no continente africano», salienta
Smail Chergui.
O acordo alcançado, em Fevereiro, entre os
Estados Unidos e os Talibans afegãos «pode servir de inspiração para os
nossos Estados membros explorarem o diálogo com os extremistas e encorajá-los a
pousarem as armas, sobretudo aqueles que foram recrutados à força»,
defendeu o alto responsável da União Africana.
«Devemos também reafirmar a nossa
determinação em travar a propagação do terrorismo e do extremismo violento, em
secar as fontes de financiamento e por fim às actividades criminosas”, acrescenta.
Após a libertação dos quatro reféns, o
Mali vivia uma calma aparente, no entanto o ataque, supostamente perpetrado por
jihadistas, esta terça-feira, 13 de Outubro, que provocou a morte a 12 civis e
11 soldados deitou as esperanças por terra.
Recentemente, Paris mostrou o seu
distanciamento das condições aceites por Bamaco para obter a libertação dos
reféns.
Os governos do Mali e da França rejeitaram
as recomendações de uma conferência de entendimento nacional realizada em
Bamaco em 2017, tendo defendido a abertura de negociações com Iyad Ag Ghali e
Amadou Koufa, outro líder do GSIM, cujo grupo opera em o centro do país.
Em Maio de 2019, Bamaco rejeitou novamente
as sugestões de um relatório da International Crisis Group (ICG) que propunha
combinar pressão militar, diálogo e desarmamento para trazer líderes jihadistas
à mesa das negociações. No mês seguinte, o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta
nomeou um "alto representante" para o centro do Mali, Dioncounda
Traoré.
No início deste ano, Traoré afirmou ter
enviado emissários para dialogar com Iyad Ag Ghali e Amadou Koufa, pouco antes
de o próprio Boubaca Keita se ter mostrado disponível para encetar um diálogo
com os jihadistas.
Desde então, poucas informações foram
tornadas públicas sobre a veracidade ou o conteúdo dos contactos, até que o
regime de Ibrahim Boubaca Keita ter sido deposto por um golpe em 18 de Agosto. ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário