ONU/França repreendida por racismo e violências policiais
Bissau, 02 Mai
23 (ANG) - O Conselho dos direitos humanos da ONU criticou a França pelas violências
policiais, discriminação racial e ataques contra migrantes.
Vários membros
da instituição apelaram o país a redobrar esforços.
A França não escapou às críticas sobre o
estado dos direitos humanos no país. Ataques a migrantes, discriminação racial
e violência policial foram os temas levantados pelo Conselho dos direitos
humanos da ONU durante um procedimento a que estão regularmente submetidos os
Estados membros das Nações Unidas.
Vários países expressaram a sua
preocupação pela violência policial em França, nomeadamente contra
manifestantes, num novo dia de protestos contra a reforma das pensões. Entre
eles, a Suécia, a Noruega e a Dinamarca.
A delegação do
Liechtenstein exigiu um inquérito independente sobre estes excessos, o
Luxemburgo pediu que a França "repensasse a sua política em matéria de
manutenção da ordem" e a Malásia reclamou que os responsáveis "fossem
punidos".
A Rússia, a
Venezuela e o Irão, três países
cujas graves violações dos direitos humanos são regularmente condenadas pela
ONU e pelos organismos de defesa dos direitos humanos, criticaram também as
violências policiais. "Estamos preocupados com as medidas duras e por
vezes violentas destinadas a dispersar cidadãos pacíficos", declarou a
representante russa Kristina Sukacheva.
Durante a sessão
das respostas da delegação francesa, Sabrine Balim, conselheira jurídica do
Ministério da Administração Interna, defendeu-se alegando que "o uso da
força é estritamente enquadrado, controlado e em caso de falta sancionado".
Além disso, recordou que as forças da
ordem tinham a obrigação de ostentar um número de identificação individual
"a fim de assegurar uma visibilidade e rastreabilidade das suas
acções". Uma obrigação nem sempre respeitada.
Os Estados
Unidos e a China também pediram à França maiores esforços para combater a
discriminação racial e religiosa.
"Recomendamos à França que
intensifique os seus esforços para lutar contra os crimes e as ameaças de
violência motivados pelo ódio religioso, como o anti-semitismo e o ódio
anti-muçulmano", declarou a representante americana, Kelly
Billingsley.
"Há um aumento do racismo e da
xenofobia", acusou o representante chinês, que apelou à França a
deixar de tomar "medidas que violem os direitos dos migrantes".
O Brasil, assim como o Japão, criticaram
"a caracterização racial pelas forças de segurança" e a
África do Sul convidou as autoridades francesas "a tomar medidas para
garantir investigações imparciais por organismos exteriores à polícia em todos
os casos de incidentes racistas envolvendo polícias".
Estas críticas surgem numa altura em que
as autoridades francesas lançaram a "operação Wambushu" na
ilha francesa de Mayotte, que visa expulsar migrantes em massa do
território francês do Oceano Índico e desmantelar bairros de lata para "lutar
contra a delinquência". A primeira operação de desmantelamento foi
suspendida pela justiça da ilha francesa.
Vários Estados
exortaram também a França a trabalhar pela defesa dos direitos das mulheres,
como a Espanha e o Reino Unido, apontando para a recorrência da violência
doméstica.
Outros países salientaram a importância
dos direitos das mulheres muçulmanas, como a Malásia que apelou a França a
"rapidamente" modificar as leis que lhes proíbem de se cobrir
o rosto em espaços públicos.
Por fim, a Eslováquia pediu que, durante
os Jogos Olímpicos, as "medidas de vigilância" respeitassem
"os princípios de necessidade e de proporcionalidade". O
recurso à videovigilância algorítmica, previsto pela lei votada em Março no
Parlamento, suscita algumas das preocupações. ANG/RFI
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