quinta-feira, 1 de junho de 2017

Crise política


Ramos-Horta quer pulso firme de José Mário Vaz

Bissau, 01 Jun 17(ANG) – A Guiné-Bissau continua confrontada com "grande imbróglio político", que exige uma posição firme do Presidente e uma solução guineense pela via do diálogo, defende José Ramos-Horta, em entrevista exclusiva à DW África.

O Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta apela à tranquilidade e ao entendimento na Guiné-Bissau. O político timorense pede ao Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, para reunir todas as partes do conflito na base de um diálogo sério com vista a salvar o país. 

A iniciativa presidencial, segundo José Ramos-Horta, deve durar o tempo que for necessário, até que seja possível definir uma agenda comum para os próximos 18 meses, que contribua para a estabilidade do país antes de eleições gerais.

Em Lisboa, José Ramos-Horta concedeu uma entrevista exclusiva à DW África, à margem das conferências do Estoril, que terminou quinta-feira em Cascais, Portugal.

O antigo Presidente de Timor-Leste, que representou as Nações Unidas em Bissau, depois do golpe de Estado de 2012, liderou a missão do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS, na sigla em inglês), criada para a consolidação da paz no país.

Para Ramos-Horta, o Presidente guineense José Mário Vaz "pode ainda salvar a sua presidência, salvar o país, se for inspirado por essa responsabilidade que é a de um chefe de Estado. Mas é necessário também que os outros deem as mãos, que também deem um passo ao encontro do Presidente".

" É preciso encontrar uma fórmula muito guineense para amenizar as tensões," refere o homem que também foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro de Timor-Leste.

Ramos-Horta sugere que a solução para a crise na Guiné-Bissau deveria contar "com a facilitação de algum amigo, alguém de confiança e com experiência".

"Todos os atores políticos e sociais guineenses participariam para estudarem uma agenda mínima de ano e meio para acalmar o país, resolver algumas questões de urgência e - havendo um acordo mínimo que apazigue os ânimos - vamos então mobilizar apoio da comunidade internacional para ajudar a resolver a falta de pagamentos, sarar algumas feridas económicas e sociais, algum défice que há, para também compensar," considera o político timorense.

Ramos-Horta diz que não quer dar lições a ninguém, mas sim "continuar a ajudar", facilitando o diálogo como observador - depois de ter servido, durante ano e meio, como representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, no tempo de Ban Ki-moon.
"Tenho andado em diálogo com gente das Nações Unidas, alertando o secretário-geral [António Guterres], o Departamento dos Assuntos Políticos, que é necessário fazer algo. 

Não se pode abandonar a Guiné-Bissau. Primeiro, apesar de tudo, o país não está em guerra. Não é Mali, não é República Centro-Africana nem Sudão do Sul. É preciso reconhecer o papel das Forças Armadas, que tem-se mostrado com muita disciplina, muita maturidade, não se imiscuindo mais nas querelas políticas da Guiné-Bissau. Tem que manter essa postura," defende.

José Mário Vaz e Ramos Horta encontraram-se em fevereiro deste ano em Bissau, entre as reuniões de consulta que o Prémio Nobel da Paz teve com várias autoridades e figuras da sociedade civil guineense.

Ramos-Horta esteve no país, na altura, para participar numa conferência sobre reconciliação e não numa missão de mediação – esclarece. Entende as manifestações de protesto contra o Presidente porque, afirma, "o povo está cansado, os jovens estão cansados, as escolas não funcionam, os funcionários não são pagos e, dado o imbróglio político, a comunidade internacional não liberta os dinheiros prometidos - e isso gera então contestação".

Devido a essa situação, "é preciso o Presidente tomar o pulso da situação com inteligência, com pragmatismo e com humildade," acrescenta.

Ramos-Horta dá a conhecer que não tem planos para regressar à Guiné-Bissau, mas deixa as portas abertas caso receba algum convite por parte das instituições soberanas guineenses, prometendo trabalhar sempre com as representações da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Africana (UA), União Europeia (UE) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). 

ANG/Rádio DW/África


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