“Combate às
desigualdades é resposta para protestos globais”, diz relatório de Índice de
Desenvolvimento Humano
Bissau, 24 dez 19 (ANG) - As manifestações
que acontecem em todo o mundo mostram que, apesar do progresso sem precedentes
contra pobreza, fome e doenças, muitas sociedades continuam tendo problemas. A
causa comum entre todas elas é a desigualdade.
Essa é a principal conclusão do
Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019, lançado recentemente na Colômbia.
A pesquisa destaca uma nova geração de
desigualdades, em torno da educação, tecnologia e mudanças climáticas, e alerta
que podem criar "uma grande divergência" como não acontece desde a
Revolução Industrial.
Em entrevista à ONU News, o diretor do
escritório que produz o relatório, Pedro Conceição, disse que a pesquisa
"vai além da desigualdade na distribuição de rendimento e tenta projetar
aquilo que pode determinar a evolução das desigualdades ao longo do
século."
"O tema das desigualdades está no
debate público em muitos países, mas tem sido centrado na distribuição do
rendimento. Aquilo que nos pareceu foi que havia outras desigualdades que
mereciam a nossa atenção, refletindo aquilo que os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável já nos dizem, que existem varias desigualdades que são
importantes."
O especialista diz que o relatório não
faz propostas especificas para diferentes países, devido à diversidade de
contextos, mas "oferece uma metodologia para tentar perceber quais as
melhores áreas de intervenção."
"A ideia essencial é que não nos
podemos circunscrever a aspetos que têm a ver com a redistribuição de
rendimento para lidar com as desigualdades que estão a surgir. É preciso
considerar um vasto leque de políticas. Políticas ligadas à concorrência, por
exemplo, para garantir que os mercados funcionam de forma mais eficiente e
podem levar a que os resultados sejam menos desiguais."
Sobre a área da concorrência, Conceição
explica que "é uma área de política que normalmente não é considerada
nestas discussões, mas o argumento é que é preciso estender o leque de
políticas para lidar com estes problemas."
Em nota, o administrador do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, disse que "diferentes motivos
estão levando as pessoas às ruas, como o custo de uma passagem de trem, o preço
da gasolina, a exigência de liberdades políticas e a procura de justiça."
Para Achim Steiner, "esta é a nova face da desigualdade."
Em países com desenvolvimento humano
muito alto, por exemplo, as assinaturas de internet de banda larga estão
crescendo 15 vezes mais rápido do que em países com baixo desenvolvimento
humano. Quanto à proporção de adultos com ensino superior, está crescendo seis
vezes mais rápido.
De acordo com a ONU, os últimos anos
foram marcados por disparidades no acesso à ciência, tecnologia e inovação. ,
by Foto: ONU/Eskinder Debebe
A distribuição desigual de educação,
saúde e padrões de vida está impedindo o progresso dos países. A pesquisa
estima que, em 2018, cerca de 20% do progresso do desenvolvimento humano foi
perdido devido às desigualdades.
Políticas que considerem infância e
investimento ao longo da vida, produtividade, investimento público e impostos
justos são recomendadas.
O relatório diz que valores médios
"podem ser úteis para contar uma história, mas informações muito mais
detalhadas são necessárias para criar políticas que combatem a desigualdade de
maneira eficaz."
Um dos exemplos é a igualdade de gênero.
Com base nas tendências atuais, serão necessários 202 anos para eliminar a
diferença entre homens em oportunidades econômicas.
Apesar de o tema estar sendo mais
discutido nos últimos anos, o Índice afirma que o ritmo de progresso está
diminuindo.
Pela primeira vez, o relatório inclui um
Índice de Normas Sociais. Em metade dos países avaliados, o preconceito de
gênero cresceu nos últimos anos. Cerca de 50% das pessoas em 77 países pensam
que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres. Mais de 40%
considera que os homens são melhores na área dos negócios.
O relatório cita esses dados para
afirmar que "políticas que abordam preconceitos, normas sociais e
estruturas de poder são fundamentais."
Políticas para equilibrar a distribuição
de cuidados, principalmente para crianças, são um dos exemplos. Grande parte da
diferença de rendimento entre homens e mulheres é criada antes dos 40 anos,
quando as mulheres estão a criar os filhos pequenos.
Um fazendeiro nas Filipinas inspeciona
sua colheita de arroz após uma enchente. Prevê-se um aumento das inundações
devido às mudanças climáticas, Banco Mundial/Nonie Reyes.
O relatório também pergunta como a
desigualdade pode mudar no futuro, destacando a crise climática e a
transformação tecnológica.
Sobre a primeira, alerta que medidas
como a criação de mercado de carbono podem ser mal administradas e aumentar as
desigualdades. Por outro lado, se as receitas do preço do carbono forem usadas
para beneficiar os contribuintes com um conjunto de políticas sociais, podem
reduzir o problema.
Sobre a transformação tecnológica, a
pesquisa diz que pode ser uma solução "se oportunidades forem rapidamente
e compartilhadas amplamente." Avisa, no entanto, que "existe um
precedente histórico para as revoluções tecnológicas criarem desigualdades
profundas e persistentes."
Uma nova "grande divergência",
no entanto, ainda pode ser evitada. O relatório recomenda políticas de proteção
social que, por exemplo, garantam uma compensação justa por trabalho em grupo e
investimento em formação ao longo da vida para permitir a adaptação dos
trabalhadores.
Em conclusão, Achim Steiner afirma que
"identificar o verdadeiro rosto da desigualdade é um primeiro passo."
Segundo ele, "o que acontece a seguir é uma escolha de cada líder."
ANG/ONU News
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