UA/Macky Sall diz a Putin que África é vítima do conflito
Bissau, 03 Jun 22 (ANG) - O presidente
da União Africana e chefe de Estad
o do Senegal, Macky Sall, pediu, hoje
(sexta-feira), a Vladimir Putin que "percebam" que os países
africanos são "vítimas" do conflito na Ucrânia, num momento de receio
de uma crise alimentar global.
“Vim vê-lo para pedir que percebam que
os nossos países (…) são vítimas desta crise económica, afirmou Macky Sall em
Sochi (sul da Rússia) no inicio da reunião com o Presidente russo.
O chefe de Estado senegalês, que no
encontro está a representar os 53 países que compõem a União Africana, pediu
também para que o sector dos alimentos fique "fora das sanções"
impostas pelo Ocidente à Rússia, como retaliação à ofensiva militar russa na
Ucrânia.
"As sanções contra a Rússia levaram
a uma maior gravidade; já não temos acesso aos cereais da Rússia, mas sobretudo
também não temos aos fertilizantes", salientou o Presidente senegalês.
Sall sublinhou que a actual situação
"realmente cria sérias ameaças à segurança alimentar do continente".
Vladimir Putin, por sua vez, não abordou
esse tema na parte pública da reunião.
O Presidente russo destacou o
"apoio" da União Soviética aos países africanos "na luta contra
a colonização" e elogiou o desenvolvimento das relações Rússia-África.
O porta-voz do Kremlin disse hoje que
Putin iria dar "uma explicação completa da sua visão sobre os
cereais" bloqueados nos portos ucranianos ao seu homólogo senegalês, Macky
Sall, agora também presidente da União Africana.
"O presidente dará uma explicação
completa da sua visão da situação em relação aos cereais ucranianos",
afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em declarações aos jornalistas.
"[Vladimir Putin] explicará aos
nossos convidados, nossos amigos africanos, a situação de facto, o estado real
das coisas. Explicará o que está a acontecer lá e que está a minar os portos, o
que é necessário para os cereais saírem e que ninguém bloqueie essas
portas", acrescentou.
Macky Sall, que detém actualmente a
presidência da União Africana (UA), está na Rússia numa altura em que se receia
uma crise global de alimentos após a ofensiva russa na Ucrânia, que levou a um
aumento nos preços dos cereais e do petróleo, que superaram os das Primaveras
Árabes de 2011 e as perturbações de 2008.
A ONU receia que haja "uma onda de
fome", principalmente em países africanos que importavam mais de metade do
seu trigo da Ucrânia ou da Rússia.
Apesar dos alertas, actualmente não há
navios a sair da Ucrânia, que era o quarto exportador mundial de milho, a
caminho de se tornar o terceiro maior exportador de trigo, e que sozinha
fornecia 50% do comércio mundial de sementes e óleo de girassol, antes do
conflito, que entrou hoje no 100.º dia.
Moscovo alega que o bloqueio não é culpa
sua, nem resultado da presença de sua frota de guerra ao largo da Ucrânia, mas
sim porque os portos ucranianos estão minados por Kiev.
Além disso, as exportações russas de
grãos estão em grande parte bloqueadas por causa de sanções logísticas e
financeiras impostas pelo Ocidente para punir a Rússia pelo conflito na
Ucrânia.
O Kremlin pediu o levantamento e a
desminagem dos portos ucranianos para evitar uma crise alimentar mundial. Uma
"chantagem", de acordo com Kiev.
Os serviços de Macky Sall tinham
indicado na quinta-feira que a sua viagem "faz parte dos esforços da
actual presidência da União [Africana] para contribuir para acalmar a guerra na
Ucrânia, e para a libertação dos 'stocks' de cereais e fertilizantes, um
bloqueio que afecta particularmente os países africanos".ANG/Angop
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