Coreia
do Sul/Partidos de
oposição pedem impeachment de presidente
após imposição de lei marcial
Bissau, 04 Dez 24 (ANG) - Os partidos da oposição no
parlamento da Coreia do Sul anunciaram nesta quarta-feira (4) que apresentaram
um pedido de impeachment do presidente Yoon Suk Yeol, após a sua tentativa
fracassada de impor a lei marcial no país.
A calma voltou às ruas da capital Seul, mas a confusão
sobre a situação política permanece.
A aplicação da lei marcial, revogada
durante à noite no Parlamento e levantada
oficialmente esta manhã pelo presidente, é um grave erro político na opinião de
muitos deputados.
O Parlamento sul-coreano decidirá posteriormente a data da votação desta moção de destituição de Yoon Suk Yeol, que poderá ocorrer já na sexta-feira (6), indicaram os seis partidos da oposição, durante uma coletiva de imprensa conjunta.
Confrontado na Assembleia Nacional, dominada pela oposição que bloqueia a política governamental, especialmente o orçamento, além de ser alvo de repetidos escândalos, Yoon Suk Yeol parece querer se agarrar ao poder enquanto puder, no momento em que enfrenta um baixo índice de popularidade.
A inesperada iniciativa do líder
conservador de decretar a lei marcial no país, a primeira vez em mais de quatro
décadas, mergulhou a Coreia do Sul em uma grave crise, colocando em xeque
o futuro do presidente. Os pedidos de renúncia vêm da oposição e também de
sindicatos, além de gerar fortes críticas dentro de seu próprio partido.
"Se [Yoon] não renunciar
imediatamente, o Partido Democrático iniciará imediatamente os procedimentos de
destituição", ameaçou a oposição.
A maior organização sindical do país convocou uma "greve geral por tempo indeterminado" até que o presidente renuncie.
Até mesmo Han Dong Hoon, líder do Partido do Poder Popular, de Yoon, pediu ao presidente que explicasse "de forma direta e detalhada essa situação trágica" e afirmou que "todos os responsáveis devem prestar contas".
A agência estatal de notícias
sul-coreana Yonhap relatou nesta quarta-feira que os principais assessores do
presidente colocaram os cargos à disposição.
Yoon Suk Yeol, um ex-procurador que
assumiu a presidência em 2022, decretou a lei marcial na terça-feira (3) à
noite sob o argumento de uma ameaça da Coreia do Norte e de "forças
antiestatais".
Porém, às 04h30 desta quarta-feira (16h30 de terça-feira em Brasília), Yoon fez um pronunciamento pela televisão para anunciar a retirada dos militares e a sua aceitação do pedido da Assembleia Nacional para suspender a lei marcial.
A notícia foi celebrada pelos
manifestantes que se concentravam em frente ao Parlamento, entoando slogans
como "prisão para Yoon Suk Yeol".
"Este ato de imposição sem uma
causa legítima é, por si só, um crime grave", declarou Lim Myeong-pan, de
55 anos. "Ele abriu o caminho para sua própria destituição",
acrescentou.
Yoon apresentou uma série de razões para
justificar a lei marcial, a primeira desde a instauração de um regime
democrático no país, em 1987.
"Para salvaguardar uma Coreia do
Sul liberal das ameaças apresentadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte
e eliminar os elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do
povo, declaro a lei marcial de emergência", disse ele, em discurso
televisionado. "A nossa Assembleia Nacional se tornou um refúgio de
criminosos, uma fortaleza para uma ditadura legislativa que busca paralisar o
sistema judiciário e administrativo e derrubar a ordem democrática liberal",
continuou.
O presidente não deu detalhes, contudo,
sobre as ameaças vindas de Pyongyang, mas lembrou que o país continua
tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte, que possui um arsenal nuclear.
Embora tenha sido de curta duração, a
imposição da lei marcial levou ao deslocamento de tropas militares, à proibição
de todas as atividades políticas e colocou os meios de comunicação sob controle
governamental.
A Constituição da Coreia do Sul
determina que a lei marcial deve ser suspensa se a maioria do Parlamento assim
solicitar.
A Casa Branca afirmou que não foi
informada "com antecedência" das intenções do presidente sul-coreano,
mesmo tendo cerca de 28.500 soldados americanos posicionados no país para lidar
com a Coreia do Norte e seu programa armamentista.
"Saudamos o anúncio do presidente
Yoon de rescindir a ordem com a qual decretou a lei marcial de emergência, de
acordo com a Constituição", reagiu o secretário de Estado americano,
Antony Blinken. "Esperamos que as desavenças sejam resolvidas de maneira
pacífica", acrescentou.
A crise impactou os mercados. A bolsa de
Seul abriu com perdas de 2% e a moeda sul-coreana, o won, caiu ao nível mais
baixo em relação ao dólar em dois anos.
Alan Yu, ex-diplomata americano na Ásia
e pesquisador do Center for American Progress, considerou a manobra como um
movimento desesperado de "um líder ineficiente e profundamente
impopular". "É quase um movimento desesperado para dar a volta por
cima, mas que não deu certo", disse.
Em entrevista à AFP, Vladimir
Tikhonov, professor de estudos coreanos na Universidade de Oslo, considerou
improvável que "a sociedade civil sul-coreana possa continuar reconhecendo
Yoon como um presidente legítimo".ANG/RFI/AFP