sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Espanha/Mais de 10 000 pessoas morreram ao tentar alcançar o território em 2024

Bissau, 27 Dez 24 (ANG) - Em 2024, 10.457 pessoas morreram no mar a caminho de Espanha, de acordo com os dados da ONG espanhola Caminando Fronteras, que aponta para um aumento de 58% relativamente ao ano anterior. 


As vítimas da rota do atlântico contam-se aos milhares. Em 2024, 10 457 pessoas perderam a vida ao tentar alcançar o território espanhol, porta de entrada para o continente europeu. 

A ONG espanhola Caminando Fronteras, que divulgou estes dados em Dezembro de 2024, num relatório intitulado "Direito à vida 2024", relata que se trata do período mais mortífero já registado, com números devastadores de 30 mortes por dia, em média. 

Entre os factores que causam estes números elevados de mortes, segundo a organização, está a "omissão do dever de salvamento em alto mar" pelas autoridades estatais, a quem compete esta obrigação marítima. Por outro lado, a externalização das fronteiras europeias a países "sem recursos adequados" põe igualmente em risco as vidas das pessoas migrantes.

A título de exemplo, a União Europeia assinou acordo com a Líbia ou a Tunísia (em 2022 e 2023 respectivamente) para delegar o controlo das fronteiras a estes países, internacionalmente condenados pelas violações aos direitos humanos, em troca de financiamentos e formação de equipas policiais. 

Outras causas do elevado número de mortos no mar Mediterraneao ou ao largo da costa ocidental de Africa, está a "criminalização das associações" que prosseguem ao salvamento dos navios de pessoas migrantes em dificuldade. A Itália, por exemplo, atribui multas frequentes e pareceres jurídicos levando à imobilização do navio de salvamento Ocean Viking, da ONG SOS Mediterrannée, uma das únicas organizações da sociedade civil a operar no Mar Mediterrâneo. 

Por outro lado, na origem dos percursos de exílio, estão os conflitos, a insegurança e dificuldades económicas vividas pelas pessoas que optam por começar do zero noutros países. A coordenadora da organização Caminando Fronteras, Helena Maleno, avança que "na zona do Sahel, a instabilidade política, o aumento dos conflitos, as mudanças climáticas tiveram impactos brutais nesta zona e levaram ao exílio de muitas pessoas".  

O relatório da organização espanhola Caminando Fronteras destaca ainda o “aumento assinalável” este ano das saídas da Mauritânia, país que “se consolidou como o principal ponto de passagem migratória” para as Canárias, um arquipélago situado ao largo de Marrocos. 

A ONG espanhola avança ainda que 131 barcos desapareceram com todos os passageiros a bordo, os corpos nunca foram encontrados, dificultando o luto dos familiares. 

Por detrás dos números estão as vidas humanas dos que morreram nesta fronteira ocidental euro-africana, assim como a dor dos familiares e amigos que perderam um próximo. Para ajudar a encontrar os desaparecidos nas rotas migratórias, várias iniciativas foram criadas, como o site da Cruz Vermelha. 

Este site chamado “Trace the face” procura ajudar os migrantes a localizar os seus próximos perdidos no percurso do exílio. ANG/RFI

 

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