Brasil/”Jair Bolsonaro está a
atrapalhar o combate à covid-19”, diz professor universitário
Bissau, 25 jun
20 (ANG) - O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro,
teve uma atitude “negacionista” relativamente ao novo coronavírus desde o início,
que chamou de “gripezinha”,
e o seu comportamento está a “atrapalhar o combate” à covid-19, considera
Emerson Servi, professor do departamento de Ciência Política da Universidade
Federal do Paraná, no Brasil.
Na segunda-feira, um juiz de um tribunal do distrito federal de B
rasília determinou que Jair Bolsonaro deve ser obrigado a usar máscaras no espaço público da capital, senão terá de pagar uma multa diária de dois mil reais, cerca de 340 euros. A
decisão surge numa altura em que o número de mortes por covid-19 no Brasil
ultrapassou as 52.600 e há mais de um milhão de infectados.
“Desde o início da
pandemia no Brasil, houve uma decisão judicial de que os governadores de
Estados tinham autonomia para tomar decisões sobre as melhores formas de
combater a epidemia de covid-19 em sus regiões. O governador do distrito
federal - que é onde está o governo central do Brasil - determinou
que todos deveriam usar máscaras enquanto estivessem em locais públicos e isso
inclui todos. Mas, o presidente da República, que está no distrito federal,
descumpria essa regra permanentemente. Era possível ver, em reuniões públicas,
que ele era o único sem máscara e houve uma série de solicitações antes da determinação judicial para que ele passasse a usar máscara e ele não passou.
Então, é uma consequência do descumprimento de uma regra do distrito federal
estabelecida pelo governador do distrito federal”,
explica o politólogo Emmerson Servi.
Não é de excluir que Jair Bolsonaro lute
legalmente contra a ordem de colocar máscara: “Nos primeiros dias, ele passou a cumprir, passou a usar as máscaras, mas
já houve notícias que a Advocacia Geral da União, que é uma espécie de
assessoria jurídica da Presidência – que não deveria ser da Presidência,
deveria ser do Estado – que vai recorrer dessa decisão judicial e, pelo menos,
legalmente o Presidente vai tentar reverter a obrigatoriedade de usar máscara
durante a pandemia. Chega a ser engraçado, mas é o noticiário que a gente tem”,
comentou Emmerson Servi.
Desde o final de Abril que é obrigatória a
utilização de máscara de protecção nos espaços públicos no Distrito Federal de
Brasília para conter a propagação do novo coronavírus. No entanto, Bolsonaro
apareceu em público várias vezes sem protecção, por vezes, em contacto directo
com outras pessoas.
“No fundo, no fundo, tudo isso é um processo de negacionismo por parte
dele [do Presidente] da pandemia.
No início, ele disse que não passava de uma gripezinha. Agora, essa
necessidade de uma decisão judicial para que ele use máscara apenas demonstra
que é a aplicação na prática daquela fala inicial em que ele não acreditava,
mesmo com os números oficiais no Brasil indicando que já passámos de 50.000 mortes
e mais de um milhão de infectados pelo vírus”, continua Emmerson Servi.
Para o professor do departamento de
Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, o Presidente brasileiro
está a “atrapalhar o combate” à covid-19: “Nós imaginávamos que existissem apenas duas
possibilidades de actuação de um homem público em situações como esta da
pandemia. A esperada era que ele actuasse de todas as formas possíveis para
tentar combater o problema e reduzir ao máximo as mortes ou, em casos extremos,
ele simplesmente não participaria das actividades de tentativa de combate para
tentar se afastar desse tema. No caso do Presidente do Brasil, nós temos uma
terceira posição que é: nem ajudar a combater, nem se afastar do tema, mas
atrapalhar. Então, quando ele actua ao contrário das determinações das
autoridades de saúde, o que ele está fazendo é atrapalhar o combate à doença.”
Emmerson Servi sublinha mesmo que há “relatos de casos e mais casos de pessoas que
morreram pela covid-19 e que antes negavam a doença” e que “não queriam usar máscara”. “Em boa medida, reproduzindo o discurso de
uma autoridade pública.”
O politólogo acrescenta que “a avaliação negativa do Presidente está a aproximar-se de 50%, enquanto a avaliação positiva dos governadores tem crescido”, ao contrário do que é habitual no Brasil. A contribuir para essa queda de popularidade está, também, a detenção, nos últimos dias, de um ex-assessor de um dos filhos de Bolsonaro, considerado peça fundamental numa investigação sobre transacções ilícitas e actos de corrupção que teriam acontecido quando o filho do Presidente era deputado estadual na câmara legislativa do Rio de Janeiro.ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário