Cabo Verde/Presidente José
Maria Neves pede à comunidade internacional decisão sobre transformação da
dívida externa
Bissau, 13 Jan 23 (ANG)
- O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, apelou à urgência de uma
decisão internacional sobre o financiamento e transformação da dívida externa
dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento em investimentos climáticos
face à crise económica e financeira.
"A pandemia da
covid-19 e a crise energética, associadas às alterações climáticas, agravaram
sobremaneira os constrangimentos e as vulnerabilidades estruturais de Cabo
Verde, tendo em conta a sua condição de Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento
(SIDS, na sigla em inglês)", afirmou o chefe de Estado, após receber no
Palácio Presidencial, na Praia, os cumprimentos de Ano Novo do corpo
diplomático acreditado no país.
"O agravamento da
dívida pública e a degradação dos indicadores sociais constituem enormes
desafios para o alcance das metas preconizadas nos planos nacionais e fixadas
pelos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030 das Nações
Unidas e pela Agenda 2063 da União Africana", observou José Maria Neves,
na mesma mensagem aos diplomatas dos vários países acreditados.
"É nesse âmbito que
Cabo Verde vem advogando pela legitimação internacional e urgência de um
tratamento diferenciado em matéria de acesso ao financiamento em condições
concessionais, de facilitação do comércio e de alívio da dívida externa, bem
como a adopção de um Índice de Vulnerabilidade Multidimensional, como critério
de acesso ao financiamento para o desenvolvimento sustentável e que atenda às
especificidades das pequenas economias insulares, mais vulneráveis às mudanças
climáticas e catástrofes naturais", acrescentou.
A dívida pública de Cabo
Verde cifrava-se em Novembro, segundo dados do Ministério das Finanças, em
293.133 milhões de escudos (2.645 milhões de euros), equivalente a 129,8% do
Produto Interno Bruto (PIB) estimado para 2022.
"Cabo Verde tem
apelado à comunidade internacional, no sentido de considerar a possibilidade de
transformar a dívida dos SIDS em investimentos climáticos e na educação, na
saúde e no combate à pobreza e às desigualdades. Nesses desideratos, esperamos
poder contar com o apoio dos nossos parceiros de desenvolvimento,
designadamente dos países e organizações internacionais que vossas excelências
aqui representam", apelou o Presidente da República.
Os SIDS são um grupo
distinto de 38 Estados-membros da ONU -- no Caribe, Pacífico e Atlântico,
Oceano Índico e Mar da China Meridional -, totalizando cerca de 65 milhões de
habitantes e reconhecido desde 1992 por aquela organização por enfrentarem
vulnerabilidades sociais, económicas e ambientais únicas.
Na mesma cerimónia, o
decano do corpo diplomático acreditado na Praia, o embaixador de São Tomé e
Príncipe, Carlos Gomes, saudou "a coragem, a resiliência e a determinação
e o exemplo de Cabo Verde face às crises pandémica, económica e financeira
internacional", bem como "as estratégias e as medidas de política
criadas pelo Governo para a retoma da economia e o bem-estar social".
"Cabo Verde tem um
papel importante a desempenhar, tanto no plano multilateral como no plano
regional, quer na CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental), quer na CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e não só.
É preciso saber aproveitar este privilégio e oportunidade que Cabo Verde
tem", apontou o diplomata.
Acrescentou que Cabo Verde
"pode continuar a contar com os apoios e a colaboração dos seus parceiros
bilaterais e multilaterais nas diferentes vertentes de desenvolvimento".
"Estamos a
acompanhar os investimentos que as autoridades cabo-verdianas vêm implementando
nas diferentes áreas de desenvolvimento para a construção de um país mais
sustentável e seguro", apontou na sua intervenção, em representação de
cerca de 20 diplomatas presentes na cerimónia.
"Queríamos
assegurar que todos os países, as organizações internacionais presentes em Cabo
Verde estão e estarão engajados em apoiar e ajudar Cabo Verde no caminho da
renovação, da construção e da retoma. Gostaríamos particularmente de sublinhar
aqui a força da parceria especial entre a União Europeia e Cabo Verde e o
envolvimento redobrado das equipas das Nações Unidas e do Banco Mundial, ao
lado de Cabo Verde e do seu povo", acrescentou o embaixador são-tomense.
ANG/Angop
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