ONU/”Mundo dividido entre
China e EUA será muito perigoso”, diz Guterres
Bissau, 09 jun 20 (ANG)
- O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou segunda-feira à noite
que um mundo dividido entre a China e os Estados Unidos será extremamente
perigoso e que teria inevitavelmente consequências a prazo nos domínios da paz
e segurança.
O problema não é novo,
uma vez que já há alguns meses referi que esta grande rotura que ameaça dividir
o mundo em duas áreas, com duas economias separadas, com duas moedas
dominantes, com regras económicas e comerciais distintas, com Internet e
estratégias de inteligência artificial diferentes, um mundo dividido em dois
seria extremamente perigoso e teria, inevitavelmente, consequências a prazo nos
domínios da paz e segurança”, afirmou Guterres numa entrevista à estação de
televisão portuguesa RTP.
Insistindo na ideia de
que, tendo em conta a actual pandemia, é necessário “um esforço global
concertado”, os “dois países mais poderosos do mundo, a China e os Estados
Unidos”, aliado ainda ao facto de estarem “profundamente divididos”, tem
“limitado fortemente” a capacidade da comunidade internacional responder à
pandemia.
“É uma das maiores debilidades
do sistema internacional actualmente. O Acordo de Paris não teria sido possível
sem o acordo assinado entre os Estados Unidos e a China. A inexistência de um
entendimento entre os dois países neste momento, aumenta enormemente a
fragilidade da comunidade internacional, não só no combate à pandemia, mas face
também a todas as outras ameaças que enfrentemos”, advertiu.
Questionado sobre o que
prevê que possa prevalecer, se o interesse nacional se o global, o
secretário-geral das Nações Unidas lembrou que, ao contrário do que muitos
pensam, “são coincidentes”.
“Face a ameaças globais,
o interesse nacional e o global coincidem. É pena que muitos interpretem que
estão em contradição, mas não há nenhuma maneira deste problema ser resolvido à
escala de um país se não for resolvido à escala global. Por isso, a
solidariedade não é aqui uma questão de generosidade, é uma questão de
interesse próprio bem entendido”, argumentou.
Guterres advertiu também
para o facto de, independentemente das divergências desse género, o mundo está
a assistir a uma “certa tendência de um recrudescimento de tendências
nacionalistas e populistas”.
“Temos agora o racismo e
a xenofobia e outras formas de irracionalidade que põem em causa os valores de
que os europeus se podem orgulhar. Foi talvez a maior contribuição que a Europa
deu à civilização mundial. Vivemos num mundo de pós ilustração, de
irracionalidade. É verdade, pelo menos em muitos sectores, em muitos aspectos,
e daí a lógica do nosso egoísmo, do nacionalismo, do nosso país primeiro,
esquecendo que o interesse do nosso país só pode ser realizado num quadro de
solidariedade global”, acrescentou.
“Será que vai prevalecer
esta visão ou será que vai prevalecer aquela que, face à discriminação que há
pouco descrevia, temos de nos unir, de pôr em conjunto as nossas capacidades,
de reforçar os mecanismos internacionais de governo e as instituições
multilaterais para respostas combinadas e para uma cooperação internacional
mais intensa? É difícil dizer neste momento o que vai prevalecer”, afirmou.
Nesse sentido, Guterres
garantiu que sabe de que lado está e que tudo fará para que prevaleça a visão
de que, face às ameaças globais, “são precisas respostas globais de
instituições mais fortes e de perceber que os interesses nacionais e globais
são coincidentes”.
Guterres insistiu também
no destaque ao papel de “vanguarda” da UE ao longo de todo o processo – “também
teve as suas dificuldades e as suas contradições, pois nem tudo foram rosas”.
“E os vários países
europeus tiveram também estratégias diferentes no combate à pandemia. Mas num
dado momento houve afirmações de solidariedade, que se vieram a reforçar e,
nesse aspecto, creio que a União Europeia está hoje um pouco na vanguarda em
relação àquilo que desejaria que pudesse ser no plano internacional, ou seja,
uma cooperação muito mais forte”.
“Por outro lado, também
é verdade que, em termos de solidariedade internacional, tem sido na Europa que
temos conseguido maior apoio à tentativa de resposta aos problemas do mundo em
desenvolvimento”, concluiu.
A pandemia de covid-19
já provocou mais de 404 mil mortos e infectou mais de sete milhões de pessoas
em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.
ANG/Angop
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