Brasil/ Lula da Silva promete "um Brasil de todos e para todos"
Bissau, 03 Jan
23(ANG) - No discurso de tomada de posse, domingo, Lula da Silva prometeu “reconstruir o
país e fazer novamente um Brasil de todos e para todos”.
Numa nação fortemente polarizada, o novo Presidente prometeu que não existirão cidadãos de segunda.
“Assumo o compromisso de, junto com o povo brasileiro, reconstruir o país e fazer novamente um Brasil de todos e para todos”, afirmou Lula da Silva, no discurso da tomada de posse, este domingo, em Brasília. Lula da Silva foi empossado como 39º Presidente da República Federativa do Brasil, com um mandato que vai até 31 de Dezembro de 2026.
O novo Presidente, que regressa ao Palácio
do Planalto quase uma década depois de ter cumprido dois mandatos, insistiu na
necessidade de reconstruir o país depois de anos de “devastação”, nomeadamente
ambiental.
“Não é preciso derrubar nenhuma árvore. É só replantar os 30
milhões de hectares de terra degradada e a gente vai poder viver sem derrubar
madeira, sem fazer queimadas”, afirmou, numa
cerimónia em que subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado por um grupo
de pessoas representativas da diversidade da sociedade brasileira, nomeadamente
o cacique Raoni Metuktire, maior liderança da etnia caiapó do Brasil.
“Os povos indígenas precisam ter
suas terras demarcadas e livres das ameaças das actividades económicas ilegais
e predatórias. Precisam de ter sua cultura preservada, sua dignidade respeitada
e sua sustentabilidade garantida”,
acrescentou Lula da Silva.
Lula da Silva disse que os indígenas não
são obstáculos ao desenvolvimento do país, mas sim “guardiões de rios e florestas”, razão
pela qual criou o ministério dos Povos Indígenas "para combater 500 anos de desigualdade”.
O Presidente que assume o cargo pela
terceira vez disse, ainda, que “ninguém será
cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do
Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela
cor de sua pele”. Por isso, sublinhou que foi criado o “ministério da
Igualdade Racial para enterrar a trágica herança do passado escravista”.
Falando sobre mulheres, o Presidente
brasileiro lembrou que o Brasil, um dos países com maiores índices de
feminicídios do mundo, não pode continuar a conviver “com a odiosa opressão imposta às mulheres,
submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas.”
Lula da Silva, prometeu, ainda, que
governará para 215 milhões de brasileiros e não apenas para os seus eleitores:
“Quero me
dirigir também aos que optaram por outros candidatos. Vou governar para os 215
milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas para quem votou em mim. Vou governar
para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo
retrovisor de um passado.”
“A ninguém interessa um país em permanente pé de
guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com
amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de
tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria”,
acrescentou.
Não existem dois brasis. Somos um único país, uma
grande nação. Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma mesma
virtude: nós não desistimos nunca.
O Presidente brasileiro também reafirmou o
seu compromisso de campanha que será lutar contra a desigualdade e a extrema
pobreza e prometeu que trabalhará para que cada pessoa tenha direito à alimentação,
referindo-se aos 33 milhões de brasileiros que actualmente passam fome.
“A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que
atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso país de
dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem”, disse.
Perante a inédita ausência do Presidente
cessante para lhe passar a faixa presidencial, foi Aline Sousa, uma mulher
negra de 33 anos e que apanha lixo, quem lhe entregou a faixa simbólica.
O agora ex-Presidente, Jair Bolsonaro,
saiu do país na sexta-feira numa viagem aos Estados Unidos, sem data marcada de
regresso. Bolsonaro não cumprimentou Lula da Silva pela vitória, nem reconheceu
de forma clara a derrota.
Na tomada de posse estiveram presentes
mais de 65 delegações estrangeiras, entre os quais chefes de Estado,
vice-presidentes, chefes da diplomacia, enviados especiais e representantes de
organismos internacionais. Foi o caso dos Presidentes de Portugal, Marcelo
Rebelo de Sousa ; de Angola João Lourenço; de Cabo Verde, José Maria
Neves; da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló ; de Timor-Leste, José
Ramos-Horta; e o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa.
Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores) é o primeiro chefe de Estado a ter três mandatos na história recente do Brasil. Candidato seis vezes à Presidência da República do Brasil, foi o primeiro líder operário a chegar ao posto mais importante do comando político do país.
ANG/RFI
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