Moçambique/ Presidente pede inquérito à repressão policial
Bissau, 24 Mar 23 (ANG) - O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ordenou, quinta-feira, ao Ministério do Interior para averiguar as razões da violência policial contra jovens que saíram à rua para homenagear o músico Azagaia, no sábado.
O chefe de Estado moçambicano quebrou o
silêncio em torno da violência da polícia contra cidadãos no passado sábado, sobretudo
em Maputo.
“Face aos acontecimentos na capital
moçambicana, Maputo, orientámos o Ministério do Interior para que proceda com a
averiguação das razões que levaram a polícia da República de Moçambique a
adoptar uma postura de confronto físico com os jovens e igualmente a
identificar aqueles que procuram se aproveitar da virtude individual do jovem
rapper Azagaia para atingir os seus intentos. Queremos dizer que lamentamos o
sucedido e tomaremos as devidas medidas para clarificar o sucedido e para prevenir
que estas situações voltem a acontecer”, afirmou Filipe Nyusi, esta
quinta-feira, na Academia de Ciências Policiais em Maputo.
O Presidente enalteceu a postura policial
em outras cidades onde diz ter havido "dissuasão pacífica", contrariamente
a Maputo.
“Lamento registar que, para a cidade de
Maputo, essa dissuasão pacífica não produziu efeitos, tendo levado a polícia ao
uso de força considerada violenta e desproporcional”, acrescentou.
Na terça-feira, a polícia moçambicana
justificou a repressão às marchas pacíficas no sábado com a necessidade de
evitar a “transição de uma manifestação pacífica para uma violenta” e
considerou que observou “estritamente a proporcionalidade da força”.
“Houve desobediência às autoridades
policiais, proferindo-se injúrias e arremessando-se objectos contundentes,
confrontação física e, em alguns casos, tentativa de apossamento de armas de
fogo. Nestes termos, a PRM [Polícia da República de Moçambique] teve de
recorrer ao uso de armas de dispersão de massas, armas não letais, em estreita
observância ao princípio de proporcionalidade da força e equidade de meios",
declarou o vice-comandante geral da polícia, Fernando Tsucana, numa declaração
pública sem espaço para perguntas, em Maputo.
Em causa, está a repressão de marchas
pacíficas de homenagem ao rapper Azagaia, que morreu vítima de doença no dia 9
de Março. As organizações da sociedade civil que prepararam a iniciativa tinham
autorizações dos municípios, mas foram impedidas de marchar. Em Maputo, Beira e
Nampula houve violência policial e o cenário repetiu-se em vários pontos do
país, com excepção de Quelimane, onde o presidente do município, Manuel de
Araújo - um dos raros autarcas da oposição em Moçambique - liderou a marcha de
homenagem ao "rapper do povo".
Várias entidades condenaram a violência
policial. Foi o caso do Centro de Integridade Pública que submeteu à
Procuradoria-Geral da República uma queixa contra o Estado moçambicano “por
actos de violação de direitos humanos e fundamentais, por parte da polícia”.
Os organizadores das marchas pacíficas
pediram a intervenção de autoridades nacionais e internacionais, acusando a
polícia de uso desproporcional da força contra jovens desarmados.
“Anunciamos que, entre muitas outras
acções, vamos fazer uma queixa ao relator especial para o direito à
manifestação, quer no sistema de direitos humanos da União Africana, quer no
das Nações Unidas”, explica o documento dos activistas apresentado em
conferência de imprensa, na terça-feira, em Maputo.
A Ordem dos Advogados de Moçambique também
considerou que a repressão policial contra as marchas pacíficas de sábado
constituiu um atentado contra a democracia.
“Estas acções não só violam os direitos
fundamentais dos cidadãos, mas também põem em causa a democracia, que é um
valor conquistado com sacrifício de todos moçambicanos”, refere o
comunicado da Ordem dos Advogados de Moçambique.
Esta quarta-feira, o Instituto para a
Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique) também pediu explicações
sobre a repressão policial e considerou graves as justificações dadas pela
corporação.
“Dada a gravidade da resposta policial
à manifestação, das ameaças registadas e das declarações do
vice-comandante-geral, o MISA Moçambique solicitou ao ministério do Interior um
pedido de esclarecimento adicional sobre as causas das barbaridades cometidas
no sábado por agentes da Polícia da República de Moçambique”, lê-se em
comunicado.
Também a Associação dos Docentes
Universitários de Moçambique acusou as autoridades de “violação grosseira
dos direitos fundamentais”, alertando para o risco de propagação de
atropelos aos direitos básicos e de reacções violentas. ANG/RFI
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