Sudão/Dois
anos de guerra civil com milhares de
mortos e sem solução à vista
Bissau, 15 Abr 25 (ANG) - A
guerra civil que devasta o Sudão desde 15 de Abril de 2023 entrou nesta
terça-feira no seu terceiro ano, sem solução à vista, depois de ter causado
dezenas de milhares de mortos, obrigado 13 milhões de pessoas a abandonar as
suas zonas e ter causado aquela que é considera pela ONU a pior crise
humanitária actualmente vigente a nível mundial.
No Sudão, milhões de civis "continuam a pagar o preço do desprezo
dos dois lados pela vida humana", disse ontem o
secretário-geral da ONU, António Guterres, em véspera do segundo aniversário do
início da guerra civil que opõe dois campos outrora aliados quando se tratou de
retirar do poder o antigo Presidente Omar el Bechir, em Abril de 2019, após
mais de trinta anos a dirigir o Sudão.
Acusado de Crimes de Guerra e Crimes contra a
Humanidade pelo Tribunal Penal Internacional em 2009, o antigo chefe de Estado
foi abandonado e detido pelo exército na sequência de largas semanas de forte
contestação popular perante o aumento do custo de vida e a violência do regime.
O general Abdel Fattah al-Burhane, chefe das
forças armadas e o seu então aliado e adjunto, o general Mohamed Hamdane Daglo,
tomam o poder, mas longe de garantirem a estabilidade do país, as suas
crescentes rivalidades conduzem o país à guerra civil quatro anos depois, a 15
de Abril de 2023.
Liderando os paramilitares das Forças de
Apoio Rápido (FSR), o general Mohamed Hamdane Daglo, apodera-se de algumas
zonas do país, nomeadamente Cartum, a capital, só recuperada pelo exército
regular no passado mês de Março, sendo que o Darfur, no oeste, continua
actualmente a ser um dos epicentros do conflito.
Ainda no passado domingo, os paramilitares
anunciaram ter tomado o controlo do campo de deslocados de Zamzam, perto de
El-Facher, durante um ataque no qual morreram pelo menos 400 pessoas, segundo a
ONU.
Em dois anos de conflito em que ambos os
campos foram acusados de graves violações dos Direitos Humanos, saques,
violências sexuais e torturas, o balanço segundo a ONU é de mais de 150 mil
mortos, 13 milhões de deslocados internos mas também refugiados que fogem para
países por vezes com fracos meios para os acolher, como é o caso do Chade ou
ainda o Egipto, onde se encontram mais de 1,5 milhão de refugiados.
A esta situação já por si considerada pela
ONU como sendo "catastrófica", acresce a grave crise humanitária que
submete neste momento 25 milhões de sudaneses a uma situação de insegurança
alimentar sendo que oito milhões estão à beira da fome, apesar dos inúmeros
recursos que o país tem.
Rico em terras aráveis, recursos naturais,
mão-de-obra jovem e oportunidades agrícolas, o Sudão tem também vastas reservas
de incluindo gás natural, ouro, prata, zinco, ferro, chumbo, urânio, cobre,
cobalto, granito, níquel, estanho e alumínio. Produtos que interessam os
parceiros internacionais do país, colocando-se a questão de eventuais
participações indirectas no conflito.
Ontem, o secretário-geral da ONU António Guterres lançou um apelo para que se acabe com "o apoio externo e o fluxo de armas" que alimentam a guerra, sem mencionar o nome de nenhum país. Na semana passada, o Sudão acusou os Emirados Árabes Unidos de apoiarem os paramilitares entregando-lhes armas. Algo que tanto as Forças de Apoio Rápido como este país do Golfo desmentiram. ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário