ONG Viver sem Fronteiras suspeita de burla com roupa doada para fins humanitários na Guiné
Bissau, 04 Out 17 (ANG)- A Organização Não-Governamental Viver Sem
Fronteiras é suspeita de desviar roupa doada para fins humanitários na Guiné,
depois de a GNR lhe ter apreendido vestuário avaliado em 4,2 milhões de euros,
disse fonte ligada ao processo.
A mesma fonte adiantou à agência Lusa que a ONG,
presidida por Natália Oliveira, tinha num armazém em Santa Maria da Feira,
distrito de Aveiro, 96 mil artigos de vestuário das marcas Salsa e Tiffosi, que
teriam como destino a comercialização e não a ajuda a pessoas carenciadas na
Guiné-Bissau.
A ONG está indiciada da prática dos crimes de burla
qualificada e fraude fiscal, referiu a GNR terça-feira, em comunicado,
acrescentando que a roupa apreendida em Santa Maria da Feira valeria 4,2
milhões de euros.
Contactada pela Lusa, Natália Oliveira confirmou as
buscas nas instalações da ONG a 04 de setembro passado e remeteu para mais
tarde esclarecimentos em comunicado a enviar à Lusa.
Em março de 2016, a Viver 100 Fronteiras ponderava
abandonar a Guiné-Bissau, país para onde enviou entre 2008 e maio deste ano 46
contentores, de 46 toneladas, com ajuda para os setores da saúde, educação e
alimentação, avaliada em 52 milhões de euros.
Na ocasião, o Governo da Guiné-Bissau informou a
Lusa que desconhecia a existência da ONG por não se encontrar nos seus registos
e ainda por esta "nunca se ter relacionado" com aquela estrutura
governamental.
Criada em 2008 para levar ajuda à Guiné, a Viver
100 Fronteiras tem vindo a realizar missões de ajuda no Senegal, São Tomé e
Cabo Verde e, em maio deste ano, anunciou à agência Lusa que tinha previsto
prestar apoio no Haiti, Costa do Marfim e Moçambique.
A Fundação João XXIII/Casa do Oeste, localizada na
Lourinhã, distrito de Lisboa, é também suspeita de um esquema idêntico, tendo
sido constituídos arguidos, no início de setembro, o padre seu presidente e uma
voluntária, indiciados pelos mesmos crimes.
Na ocasião, numa busca realizada numa garagem de
uma habitação em Mafra, propriedade da arguida, a GNR veio a apreender 2.700
peças de vestuário da marca Salsa, estimadas em 208 mil euros.
A GNR efetuou também outra busca numa loja
solidária da Fundação, em Mafra, onde não veio a apreender quaisquer artigos
suspeitos.
A roupa estaria a ser comercializada de forma
ilegal e a preços mais atrativos, provocando um decréscimo anormal nas vendas
dos representantes da marca naquela região, explicou fonte da GNR à Lusa.
A 08 de setembro, em comunicado, a Fundação, que há
28 anos leva missões de solidariedade à Guiné, confirmava a realização das
buscas e de bens doados para serem enviados para a Guiné, acrescentando que
estes não foram apreendidos pela GNR.
Esclarecia ainda que a mulher constituída arguida
não é sua voluntária e admitia "incorreções de procedimento e,
eventualmente, de legalidade" em algumas ações de solidariedade realizadas.
ANG/Lusa
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