Brasil-Eleições/Campanha inédita liderada por Lula da Silva e Bolsonaro arranca na terça-feira
Bissau, 15 Ago 22(ANG) – Disputada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo atual Presidente, Jair Bolsonaro, os dois líderes mais relevantes da política brasileira atual, a campanha eleitoral, inédita no maior país da América Latina, começa na terça-feira.
Para
o jornalista e analista político Thomas Traumann, a disputa entre um presidente
e um ex-presidente, além de inédita, deverá monopolizar as atenções dos
brasileiros e, dentro desta perspectiva, ele não crê que os demais adversários
terão hipótese de incomodar os líderes na campanha que começa agora.
“É a
primeira vez na história do Brasil e uma das raras histórias no mundo que você
tem um concorrente que é ex-presidente. Isso é uma coisa muito importante
porque muda completamente a característica da campanha e significa que nós
temos dois personagens que são conhecidos por quase 100% da população”, frisou
Traumann.
“São
dois personagens que já foram testados e, além disso, produzem sentimentos
muito fortes na população. Os brasileiros ou amam ou odeiam o Lula [da Silva],
ou amam ou odeiam o Bolsonaro”, acrescentou.
Este
alto nível de conhecimento dos eleitores manifesta-se nas sondagens divulgadas
no país, que de forma geral apontam Lula da Silva com pouco mais de 40% das
intenções de voto e Bolsonaro com mais de 30% da preferência dos eleitores.
“Raramente
você vai achar brasileiros que são indiferentes aos dois. Acho que esta é a
grande característica desta eleição. Isto explica o facto de que a todas as
tentativas feitas nos últimos meses para promover um terceiro candidato que
pudesse furar [a polarização] fracassaram”, avaliou Traumann, que prevê que
Lula da Silva e Bolsonaro irão somar mais de 80% dos votos válidos já na
primeira volta.
Além
deles, disputam também o lugar no Palácio do Planalto o ex-governador Ciro
Gomes, em terceiro lugar nas sondagens, e as senadoras Simone Tebet, em quarto
lugar, e a recém-lançada candidata e senadora Soraya Thronicke, que terá grande
espaço para fazer propaganda eleitoral devido à dimensão do seu partido.
“Bolsonaro
e Lula da Silva são os dois grandes, os dois políticos mais populares do século
XXI no Brasil. Eles têm bases populares reais que não são partidárias ou
regionais. Eles representam duas visões muito diferentes do Brasil e têm essa
relação muito próxima do eleitorado. Acho que isso faz com que esta campanha
seja muito diferente de qualquer coisa a que já se assistiu”, comentou.
O
especialista, que também se dedica a analisar sondagens qualitativas, disse
acreditar que a disputa de 2022 tem como principal campo de batalha conquistar
apoio das mulheres, que recebem entre dois e cinco salários mínimos, têm
rendimentos irregulares e são, na sua maioria, ‘chefes de família’, ou seja,
têm filhos, mas não maridos.
“É
esse grupo [de mulheres] que vive nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro,
de São Paulo, Minas Gerais que sente a inflação de uma forma muito pesada. Elas
têm críticas ao Bolsonaro, mas elas não têm simpatia ao Lula da Silva porque
também sentiram a recessão de 2014, 2015 e 2016. Esse é o grupo – se você
pergunta para mim – onde acredito que será decisivo e pelo qual os candidatos
lutarão num grande campo de batalha”, avaliou Traumann.
Para
o especialista, o tema central que deverá definir o voto das mulheres e também
de outros segmentos da população será a economia.
“O
Brasil é, historicamente, e sempre foi o país do voto económico. Toda a nossa
teoria na ciência política indica que o voto económico nada de braçada [é
central] no Brasil. A questão toda é que o Brasil está um país mais pobre do
que era há quatro anos, mais pobre que era há oito anos, mais pobre do que era
há 12 anos”, frisou Traumann.
Seguindo
nesta linha de raciocínio, o analista avaliou que o aumento do valor dos
programas sociais aprovados no Congresso nos últimos meses, a criação de
programas para categorias como motoristas de camiões e táxis, e verbas
destinadas a parlamentares devem impulsionar os números de Bolsonaro nas
próximas semanas, acirrando a disputa com Lula da Silva pela liderança e pela
vitória.
“Literalmente,
é dinheiro que está caindo na mão das pessoas, somado à queda na taxa da
inflação. Tem um efeito direto para mim, não há dúvida nenhuma”, frisou.
Questionado
sobre o peso das notícias falsas na corrida eleitoral, o especialista considera
que neste ano elas não serão tão determinantes quanto foram em 2018 porque Lula
da Silva e Bolsonaro são muito conhecidos e as pessoas já têm uma opinião
formada sobre eles.
Para
Traumann, outros dois temas terão peso: o aborto e a flexibilização de armas.
“As
mães pobres do Brasil até aguentam muita coisa do Bolsonaro, mas o facto de que
as armas estão liberadas e que matam os filhos delas, isso não. Ao mesmo tempo,
elas são contra o aborto”, pontuou.
Segundo
a justiça eleitoral brasileira, o prazo para registo das candidaturas a
presidente e a vice-presidente da República, governadores e vice-governadores,
senadores e respetivos suplentes, deputados federais e deputados estaduais ou
distritais termina na segunda-feira (15).
Na
terça-feira (16), começa a propaganda eleitoral dos candidatos, incluindo
divulgação na internet e por altifalantes, caminhadas, ‘carreatas’ (desfiles de
carro) ou passeatas. A campanha termina a 01 de outubro, véspera da primeira
volta das eleições.
Em 26
de agosto começa o horário eleitoral gratuito nos sistemas de rádio e televisão
do Brasil, que vai até 30 de setembro para os candidatos que concorrem na
primera volta.
Prevista
apenas para disputa de cargos executivos, ou seja, governador regional e
Presidente, a segunda volta das eleições brasileiras será realizada em 30 de
outubro caso nenhum candidato alcance maioria absoluta dos votos válidos na
primeira votação. ANG/Inforpress/Lusa
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