Afeganistão/ONU denuncia que talibãs aumentaram restrições a mulheres
Bissau, 19 Jul 23 (ANG) - As autoridades talibãs aumentaram ainda mais nos últimos meses as restrições impostas às mulheres e raparigas no Afeganistão, sobretudo nas áreas da educação e emprego, denuncia um relatório da ONU sobre os Direitos Humanos naquele país.
Segundo o relatório da missão da ONU no Afeganistão, que
analisou acontecimentos e medidas decretadas entre Maio e Junho, o Ministério
da Saúde Pública do governo talibã anunciou que só os homens poderão fazer
exames para prosseguirem estudos médicos especializados.
A medida vem na sequência da proibição de as mulheres estudantes
de medicina se submeterem a exames de licenciatura, anunciada em Fevereiro
passado, e da proibição das mulheres frequentarem universidades, decretada em
Dezembro de 2022, segundo o documento.
A ONU afirma ainda ter registado casos em que os talibãs
aplicaram as limitações (anteriormente anunciadas pelos extremistas) à
liberdade de circulação e de acesso ao emprego das mulheres.
No início de Maio, duas funcionárias afegãs de uma organização
não-governamental (ONG) internacional foram detidas por forças talibãs num
aeroporto porque viajavam sem um acompanhante masculino, ou “mahram”, segundo o
relatório.
Em Junho, uma parteira foi detida e interrogada durante cinco
horas pelos serviços de informação dos talibãs, que a ameaçaram de morte se
continuasse a trabalhar para uma ONG. Segundo o relatório, dois dias depois, a
parteira demitiu-se.
"Duas outras ONG viram as licenças suspensas pelo
Departamento de Economia devido à presença de funcionárias nos seus
escritórios", denuncia-se no mesmo documento, que adianta ter igualmente
registado casos de violência física contra as mulheres, incluindo um incidente
em que membros do Departamento de Vícios e Virtudes espancaram uma mulher com
um pau e obrigaram-na a abandonar um parque público.
Apesar das promessas iniciais de um governo mais moderado em
comparação ao seu anterior período no poder, na década de 1990, os talibãs têm
vindo a impor medidas severas desde que tomaram novamente o controlo do
Afeganistão em Agosto de 2021, quando as forças dos Estados Unidos e da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ainda estavam a retirar-se do
país.
Desde então, proibiram o acesso das mulheres à maior parte dos
sectores da vida pública e do trabalho e reprimiram a liberdade dos meios de
comunicação social.
O Governo de Cabul proibiu também as raparigas de frequentarem a
escola para além do sexto ano e ainda as mulheres afegãs de trabalhar em
organizações locais e não-governamentais. Em Abril, a proibição foi alargada às
funcionárias de agências da ONU que operam no país.
As medidas desencadearam uma forte revolta internacional,
aumentando o isolamento do país numa altura em que a economia afegã entrou em
colapso e em que a crise humanitária se agravou.
Durante o primeiro regime talibã, de 1996 a 2001, os oficiais aplicavam
castigos corporais e execuções públicas a pessoas condenadas por crimes,
frequentemente em estádios desportivos.
Em Junho, os talibãs concretizaram o que se crê ser a segunda
execução pública desde que regressaram ao poder.
A primeira ocorreu em Dezembro passado, quando um homem
condenado por assassínio foi executado com uma espingarda de assalto pelo pai
da vítima, na província ocidental de Farah, perante centenas de espectadores e
vários altos funcionários talibãs.
O segundo, executado em Cabul, foi um homem identificado como
Ajmal, considerado culpado do assassínio de cinco pessoas no ano passado.
Em Maio, a ONU declarou que 274 homens, 58 mulheres e dois
rapazes tinham sido publicamente chicoteados nos seis meses anteriores. ANG/Angop
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