França/Milhares de parisienses manifestam-se contra extrema-direita e pedem clarificação a Macron
Bissau, 01 Jul 24 (ANG) - Milhares de
apoiantes da coligação de esquerda manifestaram-se no domingo em Paris contra a
extrema-direita, com várias alusões aos anos 1940, pedindo ao Presidente
francês que clarifique a sua posição e apele sem ambiguidades a uma “frente
republicana”.
A
União Nacional foi a formação mais votada na primeira volta das eleiçõ
es
legislativas francesas realizadas este domingo, com cerca de 34% dos votos, à
frente da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP, 28,5%) e da centrista
Juntos pela República (22&), de acordo com as primeiras projeções.
“Já
não há, neste país, escapatória a uma escolha fundamental. É agora o momento:
somos nós ou eles, não há nada no meio. E não estamos aqui só para fazer
barragem, estamos aqui porque queremos mudar tudo”, exclamou Jean-Luc Mélenchon
na reta final da manifestação, provocando um longo aplauso das pessoas que o
estavam a ouvir.
Com
bandeiras da coligação, da Palestina, ou com o arco-íris representativo do
movimento LGBT, milhares de manifestantes foram entoando cânticos como “não
queremos fachos”, “siamo tutti antifascisti”, “no pasarán” ou a música Bella
Ciao.
À
Lusa, Raphaël, de 23 anos, disse que ficou “muito triste” com os resultados
desta noite porque, apesar das sondagens, “o que era uma mera vertigem
tornou-se realidade e a extrema-direita nunca esteve tão perto no poder desde o
Pétain”, general que implementou o regime de Vichy, que colaborou com a
Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Refutando
a ideia de que a França “nunca experimentou” a extrema-direita no poder, vários
manifestantes levaram para a Praça da República cartazes ou bandeiras alusivos
à Segunda Guerra Mundial, entre os quais Maxime, de 24 anos, que empunhava uma
bandeira de França com a Cruz de Lorena no meio.
“É o
símbolo da resistência, sob o qual coligaram-se comunistas, ‘gaulistas’ para
liberar a França do regime de Vichy, para lutar contra o fascismo e os nazis, e
hoje parece-me que a União Nacional são os herdeiros de Pétain. Portanto,
estamos numa situação histórica e parece-me que este símbolo tem toda a razão
de ser atualmente”, disse.
Na
senda dessa resistência dos anos 1940, que juntou personalidades de esquerda e
do centro-direita, foram várias as personalidades que, esta noite, pediram aos
partidos que compõem a coligação presidencial para retirarem as suas
candidaturas nos casos em que tenham ficado em terceiro lugar e apelem ao voto
na esquerda para derrotar a extrema-direita.
“Hoje,
ouvimos muitos dirigentes do ‘macronismo' a exprimirem-se e continua a ser tudo
muito confuso, continua a ser muito confuso para pessoas que, ainda assim,
beneficiaram dos vossos votos em 2017 e 2022, porque foram vocês que impediram
a eleição da Le Pen nas presidenciais, porque fizeram o esforço para ir votar
neles”, disse aos manifestantes o secretário nacional do PS francês.
Salientando
que, até agora, “está tudo em aberto em França”, Jeff, de 67 anos, disse à Lusa
que o facto de existirem 300 a 390 círculos eleitorais onde haverá três
candidatos a disputar a eleição abre a possibilidade de “uma reação
antifascista” em todo o país.
“A
esquerda já pediu aos seus eleitores para que, a partir do momento em que
estiver em terceiro lugar, desista a favor de um partido republicano, contra o
fascismo. Enquanto a direita, até agora, ainda não deu qualquer sinal.
Portanto, é muito ambíguo”, afirmou, em sintonia com a secretária nacional do
partido Europa Ecologia Os Verdes (EELV), que considerou que as eleições estão
agora nas mãos “dos partidos no Governo”.
“Nenhum
líder de um partido centrista deve faltar à chamada. Reclamam-se humanistas,
democratas, republicanos: é agora que vamos ver se são verdadeiramente ou não!
Que venham e nos ajudem a construir uma nova frente republicana à volta do
nosso programa”, apelou a líder ecologista.
Já o
coordenador da França Insubmissa Manuel Bompard considerou “inaceitável” que se
estabeleça uma equivalência entre a União Nacional e o seu partido e, numa
noite em que a extrema-direita obteve o seu melhor resultado de sempre em
eleições legislativas, deixou uma mensagem que resumiu o estado de espírito dos
manifestantes.
“Hoje,
o nosso estado de espírito não é de alegria, mas também não é de tristeza. Hoje
o estado de espírito tem de ser de combate, de batalha, para que, em cada
círculo eleitoral, cada casa, empresa ou serviço público, vamos buscar os
eleitores e, daqui a uma semana, inflijamos uma derrota à União Nacional”,
disse.
ANG/Lusa
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