Suíça/ONU denuncia detenções arbitrárias e "clima de
medo" na Venezuela
Bissau, 13 Ago 24(ANG) –
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos manifestou-se hoje preocupado
com as detenções arbitrárias na Venezuela em protestos contra os resultados das
eleições presidenciais e com “o clima de medo” vivido no país.
“É particularmente
preocupante que tantas pessoas estejam a ser detidas acusadas de incitamento ao
ódio ou ao abrigo da legislação antiterrorista”, afirmou Volker Turk num
comunicado citado pela agência francesa AFP.
Turk advertiu que o
direito penal “nunca deve ser utilizado para restringir indevidamente” os
direitos à liberdade de expressão, de reunião e de associação.
O aviso surge um dia
depois de o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ter exigido que os
serviços do Estado atuem com “mão de ferro”, na sequência dos distúrbios que
eclodiram após o anúncio da sua reeleição.
As autoridades
eleitorais da Venezuela declararam Maduro vencedor das presidenciais de 28 de
julho, para um terceiro mandato, mas a oposição denunciou uma “fraude maciça”.
O anúncio da vitória de
Maduro provocou protestos espontâneos, com 25 mortos e 192 feridos, segundo
fontes oficiais.
“Todas as mortes
ocorridas durante as manifestações devem ser investigadas e os responsáveis
devem responder pelos seus atos”, exigiu Turk.
Citando fontes oficiais,
a ONU disse que mais de 2.400 pessoas foram detidas desde 29 de julho.
Na maioria dos casos
documentados pelo Alto-Comissariado, os detidos não foram autorizados a
escolher um advogado ou a contactar a família.
“Alguns destes casos
equivalem a desaparecimentos forçados”, denunciou Turk no comunicado.
Turk apelou para a
libertação imediata de “todas as pessoas detidas arbitrariamente” e para
garantias de um julgamento justo para todos os detidos.
“O uso desproporcionado
da força pelas forças da ordem e os ataques a manifestantes por indivíduos
armados que apoiam o Governo, alguns dos quais resultaram em mortes, não devem
repetir-se”, afirmou.
Turk manifestou-se
também preocupado com a possível adoção de um projeto de lei sobre controlo e
financiamento das organizações não-governamentais, bem como de outro projeto de
lei “contra o fascismo, o neofascismo e expressões semelhantes”.
“Exorto as autoridades a
absterem-se de adotar estas e quaisquer outras leis que comprometam o espaço
cívico e democrático no país, no interesse da coesão social e do futuro do
país”, acrescentou.
O Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos,
enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo
González Urrutia, obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e
diversos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam
apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE
diz ser inviável, alegando ter sido alvo de um ciberataque.
O país da América do Sul
conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes entre
os 28,3 milhões de habitantes.
ANG/Inforpress/Lusa
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