ONU/FAO alerta que Covid-19 pode ter efeitos a longo prazo sobre segurança alimentar
Bissau, 13 Jul
21 (ANG) - Segundo um relatório divulgado segunda-feira pela FAO, a agência da ONU para
a alimentação e agricultura, a covid-19 poderia ter efeitos a longo prazo sobre
a segurança alimentar no mundo inteiro.
Este documento
refere que no espaço de apenas um
ano, a fome progrediu 18% no mundo. Para a
FAO, este foi o agravamento da fome mais importante em pelo menos 15 anos.
“Muito antes da pandemia covid-19, já não
estávamos em vias de erradicar a fome e todas as formas de desnutrição no mundo
até 2030. Hoje, a pandemia tornou a tarefa ainda mais difícil”. Esta é uma das
conclusões do relatório publicado pela FAO juntamente com outras agências da
ONU em que se refere que no ano passado "720 a 811 milhões de pessoas no
mundo passaram fome, cerca de 118 milhões a mais do que em 2019”.
De acordo com este documento, mais de
metade das pessoas subnutridas vive na Ásia (418 milhões), mais de um terço em
África (282 milhões) e 8% (60 milhões) na América Latina, este relatório
referindo ainda que mais de 2 biliões de pessoas não tiveram acesso a uma
alimentação adequada ao longo do ano passado, ou seja mais 320 milhões do que
em 2019. Um aumento “igual àquele observado durante o total dos cinco anos
anteriores”, nota o relatório.
A insegurança alimentar, fenómeno já
presente antes da pandemia, foi agravada por ela, constata a FAO ao referir que
em alguns países, nomeadamente os mais pobres, as restrições aplicadas no
âmbito do combate à covid-19, impediram os pequenos agricultores de
comercializarem os seus produtos e provocaram problemas de abastecimento nas
cidades, designadamente na zona do Sahel.
Segundo a FAO, cerca de "660 milhões
de pessoas poderiam passar fome em 2030, em parte devido aos efeitos a longo
prazo da pandemia de covid-19 sobre a segurança alimentar global - ou seja 30
milhões a mais do que num cenário em que não teria havido pandemia”.
Já na
passada sexta-feira outra organização, a Oxfam teceu um alerta no mesmo
sentido.
De acordo com esta ONG, a insegurança
alimentar no mundo aumentou seis vezes no último ano, sendo que onze pessoas
morrem de fome a cada minuto.
Actualmente, várias áreas do globo
suscitam preocupação. Em finais do mês passado, o PAM teceu um alerta sobre a
situação de Madagáscar onde as alterações climáticas provocaram a seca e a
fome. Também segundo as Nações Unidas, no Iémen, em guerra desde 2014, cerca de
50 mil pessoas estão a passar fome e cerca de 5 milhões estão em situação de
insegurança alimentar.
No Tigray, região conflituosa do norte da
Etiópia, o PAM estima que mais de 400 mil pessoas estão a passar fome e quase 2
milhões estão em risco.
Esta agência da ONU alertou igualmente no passado mês de Maio que cerca de 950 mil pessoas se encontram actualmente em insegurança alimentar no norte de Moçambique, palco de um conflito armado desde Outubro de 2017. A braços com a seca, Angola também tem lutado contra a fome em certas zonas do seu território, nomeadamente no sul. ANG/RFI
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