França/Macron quer penalizar financeiramente pais de jovens que criaram tumultos
Bissau, 04 Jul 23 (ANG) – O Presidente e Governo franceses querem punir os autores, alguns muito jovens, da violência urbana em França, mas ainda estão a estudar hipóteses, como a ideia recorrente na direita de impor sanções financeiras aos pais.
Na
passada sexta-feira, no auge das noites de violência em reação à morte, a 27 de
junho, em Nanterre, de Nahel, de 17 anos, abatido a tiro por um polícia, tinha
apelado à "responsabilidade dos pais" para "manter em casa os
menores, que constituem uma grande parte dos desordeiros".
"Não
cabe à República substituir-se a eles", insistiu.
No
entanto, na noite de segunda-feira, quando a violência abrandou, Macron afirmou
que pretendia atuar "caso a caso" e "não necessariamente"
suspendendo os abonos de família.
O
ministro da Justiça francês, Eric Dupond-Moretti, também apontou o dedo aos
pais, numa circular enviada aos gabinetes do Ministério Público de todos os
tribunais em França.
"Sempre
que os pais podem exercer a sua autoridade parental e não o fazem, há uma
responsabilidade penal que pretendo pôr em prática", declarou, recordando
as penas previstas: dois anos de prisão e uma multa de 30.000 euros.
Longe
de obter o apoio unânime da classe política, os discursos foram denunciados
como "cínicos" pelos políticos de esquerda.
Ali
Rabeh, presidente da câmara de Trappes, uma comuna do oeste de Paris com uma
elevada taxa de pobreza, citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP),
criticou Macron por "deitar achas para a fogueira".
Rabeh
recordou que a população dos bairros onde se concentra a violência é
maioritariamente constituída por "famílias monoparentais" e descreveu
situações em que a mãe "está sozinha a trabalhar para tentar encher o
frigorífico", pelo que "não está presente quando o filho sai da
escola e anda na rua".
Quando
uma criança é objeto de uma medida educativa na sequência de uma infração,
"um educador especializado vem acompanhar a mãe", explicou. Só que
"um número muito elevado de medidas educativas não é aplicado, por falta
de meios, pelo Ministério da Justiça", sublinhou.
Quando
uma criança é objeto de uma medida educativa na sequência de uma infração,
prosseguiu, "um educador especializado virá acompanhar a mãe".
A
suspensão do abono de família para os pais de menores que faltam à escola foi
aprovada em 2010, durante o mandato de Nicolas Sarkozy, o então Presidente
francês de direita.
Durante
a campanha de 2012, chegou a prometer alargar a pena aos jovens delinquentes,
mas acabou por ser derrotado. O seu sucessor socialista, François Hollande
(2012-17), revogou a medida.
Desde
então, o partido de Nicolas Sarkozy, Os Republicanos (LR), relançou a ideia no
Senado e na Assembleia Nacional com projetos de lei que nunca chegaram a ser
concretizados.
Algumas
autarquias, como a cidade de Valence, dirigida por Nicolas Daragon (LR),
aprovaram sanções pecuniárias contra as famílias dos menores que são
"chamados à ordem ou condenados por perturbação da paz", privando-as
das prestações sociais pagas pela cidade.
Em
Nice, uma família pode ser despejada da sua habitação social na sequência da
condenação de um membro da família, nomeadamente por tráfico de droga.
No
centro-direita, o presidente do Modem, François Bayrou, principal aliado de
Macron, partilha o princípio de uma "sanção imediata sempre que há um
deslize".
"Obviamente,
quando se trata de crianças pequenas, a sanção é dirigida às famílias",
afirmou à rádio francesa LCI, ressalvando que não deve haver uma resposta única
que consiste em "privar [as mães] de parte do rendimento mínimo que as
sustenta".
"Se
suprimirmos os subsídios e a assistência social, estaremos a acrescentar
miséria à miséria", insistiu o comunista Fabien Roussel, ao canal de
televisão France2.
Os
agentes da polícia com quem Macron se reuniu na segunda-feira também não
apoiaram a ideia de apelar aos pais.
"Os
comerciantes, Senhor Presidente, são aqueles que lhes pedem para se acalmarem
nos últimos dois dias, porque toda esta confusão está a prejudicar os seus
negócios”, referiram. ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário