ONU/PNUD alerta para ascensão "extremamente preocupante" do populismo
Bissau,14 Mar 24(ANG) -
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) alertou hoje
para a ascensão "extremamente preocupante" do populismo no mundo, que
está a dividir cada vez mais as sociedades e a radicalizar o discurso político.
"Estamos a ver em muitos
países ao redor do mundo um nível crescente de polarização e a emergência
do populismo como uma resposta que está a dividir cada vez mais as sociedades,
a radicalizar o discurso político e, essencialmente, a colocar cada vez mais
pessoas umas contra as outras dentro dos países", observou o administrador
do PNUD, Achim Steiner, numa conferência de imprensa em Nova Iorque, onde
apresentou as conclusões do "Relatório de Desenvolvimento
Humano 2023/24".
"E isto em si não é algo
novo para vocês (jornalistas), mas a forma como estamos a observar isto
acontecer, num nível e com uma continuidade e um crescimento exponencial, é
extremamente preocupante", avaliou.
Além de apontar que o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) atingiu máximos históricos em 2023, apesar
do progresso "profundamente desigual" entre países ricos e
pobres, o relatório constatou ainda que o avanço da ação coletiva internacional
está a ser dificultado por um emergente “paradoxo da democracia”.
Ou seja, enquanto nove em cada
10 pessoas em todo o mundo apoiam a democracia, mais de metade dos inquiridos
no levantamento global manifesta apoio a líderes que podem prejudicá-la ao
contornar regras fundamentais do processo democrático.
"O que também temos visto
é que - e esta é uma tendência em constante crescimento, e pela primeira vez em
inquéritos em todo o mundo - , ultrapassou-se a marca de 50% de pessoas
dispostas a eleger líderes populistas, com agendas populistas, que na
verdade representam o risco de minar os próprios fundamentos da democracia,
frisou Steiner.
"O populismo está em
ascensão em muitos países. Está a dividir e a polarizar os países e não só está
a criar maiores tensões nas sociedades, como também começa a impulsionar a
agenda internacional e geopolítica", salientou ainda.
Depois de uma pandemia como a
da covid-19, que abalou o mundo e que evidenciou as interdependências
globais, agora seria o momento, segundo o administrado do PNUD, para o
mundo estar altamente concentrado em desenvolver a sua capacidade
coletiva de agir, apesar de todas as diferenças.
Mas isso não está a acontecer,
de acordo com o relatório.
"A polarização e o
populismo, a virada para dentro, as respostas de foco interno, fazem com que o
seu vizinho se torne o seu inimigo. É no aumento dos orçamentos de defesa
que se mede o aumento da segurança quando, na verdade, estamos a desinvestir
nos meios de cooperação que eliminariam o grande risco para o futuro do
desenvolvimento e, portanto, para a segurança humana", advogou.
Face às conclusões do
relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou que as
divisões estejam a aprofundar-se num momento em que a cooperação é cada vez
mais crítica.
"Vivemos numa era de
polarização. Entre as comunidades e entre regiões, as pessoas estão a ser
afastadas pelo aumento da desigualdade, pela escalada de conflitos e por
choques climáticos recordes. A desinformação e a quebra de confiança estão a
dilacerar o tecido social e a reduzir o espaço para um discurso público
significativo", assinalou o líder das Nações Unidas.
Guterres lamentou ainda o
"impacto devastador" da polarização no desenvolvimento sustentável,
defendendo que a melhor esperança para o futuro é combater a retórica que
divide e "destacar o terreno comum" que une a maioria das
pessoas em todo o mundo.
O ex-primeiro-ministro
português apontou a Cimeira do Futuro, a realizar-se em setembro na
sede da ONU, em Nova Iorque, como o fórum para abordar todas essas questões.
ANG/Inforpress/Lusa
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