Presidenciais no Gabão/
Promessas de mudança e continuidade do poder
Bissau, 11 Abr 25 (ANG) – Este sábado, 12 de Abril, cerca
de 850 mil eleitores gaboneses são chamados às urnas para eleger o próximo
Presidente da República, marcando o fim oficial o período de transição iniciado
após o golpe de Estado militar de Agosto de 2023.
O escrutínio é apresentado como
um passo decisivo para o regresso à ordem constitucional e à governação civil,
mas o contexto político levanta dúvidas sobre a real abertura democrática do
processo.
O general e actual presidente da transição,
Brice Clotaire Oligui Nguema, surge como o candidato em vantagem. No último ano
e meio liderou o golpe que depôs Ali Bongo Ondimba e assumiu a presidência
interina. No final de 2024, promoveu uma revisão constitucional para permitir
que os militares em função pudessem concorrer a cargos políticos - abrindo
caminho à sua própria candidatura. Desde então, Brice Clotaire Oligui
Nguema tem cultivado uma imagem de "construtor", apoiado
por uma coligação alargada de associações, sindicatos e partidos, reunidos no
movimento Rassemblement
des bâtisseurs (União dos Construtores). A sua campanha tem sido
marcada por uma presença constante nos órgãos de comunicação e por grandes
mobilizações populares, sobretudo em Libreville.
No entanto, a corrida eleitoral conta com
mais sete candidatos que procuram apresentar alternativas à liderança de Brice
Clotaire Oligui Nguema. Entre eles destaca-se Alain-Claude Bilie-By-Nze, antigo
primeiro-ministro de Ali Bongo, que se posiciona como o candidato da ruptura.
Crítico do poder autoritário, acusa Oligui de perpetuar o sistema do Partido
Democrático Gabonês (PDG), que dominou o país durante mais de cinco décadas.
Propõe um programa liberal, centrado na recuperação da soberania económica e na
implementação de um rendimento mínimo garantido, financiado pelas receitas
petrolíferas e mineiras.
Outras candidaturas oferecem visões distintas
para o futuro do Gabão. Joseph Lapensée Essingone aposta na agricultura e na
pecuária como motores de um novo modelo de desenvolvimento, capaz de absorver o
desemprego entre diplomados. Já Zenaba Gninga Chaning, a primeira mulher a
candidatar-se à presidência do país, defende medidas de apoio aos jovens,
nomeadamente através da criação de centros de formação gratuitos, e a contenção
dos gastos públicos.
Stéphane Germain Iloko Boussengui, médico,
propõe um plano de descentralização e combate à corrupção, além de defender a
revogação da nova Constituição aprovada durante a transição. Axel Stophène
Ibinga Ibinga, empresário, defende o empreendedorismo e a moralização da vida
pública como alicerces para resolver o desemprego e promover a transparência
governativa. Alain Simplice Boungoueres propõe a criação de um fundo soberano
dedicado ao “perdão
nacional”, com o objectivo de indemnizar vítimas de injustiças
históricas ligadas à exploração de recursos naturais. Já Thierry Yvon Michel
N’Goma apresenta uma linha soberanista, defendendo o fim da dependência da
Françafrique e o abandono do franco CFA.
Apesar da diversidade de propostas e perfis dos oito candidatos às presidenciais, muitos observadores apontam para uma campanha marcada por forte assimetria. O controlo exercido por Oligui Nguema sobre o aparelho de Estado, aliado à sua vantagem mediática e logística, gera preocupações sobre a equidade do processo e a possibilidade de uma verdadeira alternância no poder.ANG/RFI
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