Moçambique/Começou semana de protestos
Bissau, 01 Nov 24 (ANG) – A semana de protestos em Moçambique começou na quinta-feira com manifestações e greve geral contra os resultados das eleições gerais de 09 de Outubro.
As manifestações foram convocadas, através das redes
sociais, pelo candidato presidencial da oposição Venâncio Mondlane, que espera
que a semana culmine com uma concentração histórica em Maputo. O impacto já se
faz sentir na capital e em outros pontos do país.
Foi na terça-feira que o candidato presidencial Venâncio
Mondlane apelou a uma greve geral de uma semana em Moçambique, a partir desta
quinta-feira, manifestações nas sedes distritais da Comissão Nacional de
Eleições (CNE) e da Frelimo, assim como uma “marcha para Maputo” até 07 de
Novembro.
“Vamos encher toda a cidade de Maputo e estou a prever quatro milhões
de moçambicanos (...), uma enchente nunca vista”, apelou o candidato presidencial apoiado pelo partido Podemos,
reconhecendo estar a pedir “um sacrífico” à população.
Esta é aquela que ele designou como “a terceira etapa” da
contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de Outubro anunciados há
uma semana pela CNE. Estas acções seguem-se aos protestos realizados nos dias
21, 24 e 25 de Outubro que degeneraram em confrontos com a polícia e na morte
de, pelo menos, 10 pessoas, dezenas de feridos e 500 detidos (segundo a ONG
Centro de Integridade Pública que monitoriza os processos eleitorais).
A greve geral, manifestações e “marcha para Maputo”, convocadas
por Venâncio Mondlane, receberam o apoio de quase 40 partidos políticos da
oposição, sobretudo extraparlamentares, esta quarta-feira. Eles anunciaram uma
“aliança inédita” para contestação dos resultados eleitorais e prometeram
“liderar o povo” nas contestações, considerando que se trata de um direito
constitucional.
Esta quarta-feira, o Governo avisou que “não quer que se repita”
a paralisação quase total registada em três dias da semana passada: “O nosso apelo é que as empresas se mantenham
abertas. O nosso apelo é que os trabalhadores, os funcionários, se dirijam aos
locais de trabalho. O Governo vai fazer o seu melhor para garantir a segurança
e queremos que o país não tenha paragem porque isso vai ter grandes efeitos na
economia do país”, disse
o ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno.
Na segunda-feira, a Polícia da República de Moçambique anunciou
que abriu um processo-crime contra Venâncio Mondlane, que se encontra em parte
incerta e diz correr risco de vida, pela escalada de violência pós-eleitoral no
país. O ministro do Interior, Pascoal Ronda, disse que Mondlane está a
“comandar”, a partir da África do Sul, a “manipulação da opinião pública” e que
incita à violência.
O comércio, os transportes e as
instituições públicas e privadas funcionam de forma bastante condicionada
apesar das garantias de segurança dadas pelo Governo através do ministro da
Indústria e Comércio de Moçambique, Silvino Moreno, no encontro com o empresariado
nacional face à convocação dos protestos.
"Oque nós queremos é que não haja destruição de propriedade
privada e não haja destruição de propriedade publica de instituições publicas,
de infraestruturas publicas. As forças de defesa e segurança estão preparadas
para garantir a segurança", declarou Silvino Moreno.
Esta quinta-feira, o Comandante Geral da Polícia, Bernardino
Rafael, apelou à não realização de manifestações violentas: "A verdade é que não a manifestações
violentas e qualquer que seja a manifestação, eles têm que nos comunicar . Eu é
que vou dizer "a rota é esta". A polícia somos nós, então
confiem-nos."
Em algumas regiões moçambicanas, como Tete e Niassa, há já
relatos de alguns confrontos entre a polícia e manifestantes.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou, a
24 de Outubro, a vitória presidencial de Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo,
com 70,67% dos votos. Venâncio Mondlane teria ficado em segundo lugar, com
20,32%. O candidato não reconhece estes resultados, que ainda têm de ser
validados e proclamados pelo Conselho Constitucional. Na terceira posição
da eleição presidencial, de acordo com a CNE, ficou Ossufo Momade, presidente
da Renamo, com 5,81%, seguido de Lutero Simango, presidente do MDM, com 3,21%.
Ossufo Momade também disse que não reconhece os resultados eleitorais
anunciados e pediu a anulação da votação. Lutero Simango recusou igualmente os
resultados, considerando que foram “forjados na secretaria” e prometeu uma
“acção política e jurídica” para repor a “vontade popular”.
Ainda segundo o anúncio da CNE, a Frelimo reforçou a maioria
parlamentar, passando de 184 para 195 deputados (em 250), e elegeu todos os 10
governadores provinciais do país. O até agora extraparlamentar Podemos elegeu
31 deputados, destronando a Renamo na liderança da oposição, uma vez que caiu
de 60 para 20 deputados. O MDM mantém a representação parlamentar, mas viu o
total de deputados cair de seis para quatro.
O anúncio dos resultados pela CNE desencadeou violentos protestos e confrontos com a polícia em Moçambique, sobretudo em Maputo, por parte de manifestantes pró-Venâncio Mondlane. O processo eleitoral de 2024 também ficou manchado pelo duplo homicídio de dois apoiantes de Mondlane, o advogado Elvino Dias e o docente Paulo Guambe, mortos a tiro numa emboscada em Maputo na noite de 18 de Outubro. ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário