Brasil/COP30 encerra sem plano para abandonar as energias fósseis
Bissau, 25 Nov 25 (ANG) - A COP30
encerrou, neste sábado(22), com um acordo
modesto sobre a acção climática e sem
plano para abandonar as energias fósseis.
O texto adoptado por consenso pelos 194 países membros do Acordo
de Paris e pela União Europeia faz apenas uma referência não explícita à saída
das energias fósseis, recordando a decisão da COP28 no Dubai, Emirados Árabes
Unidos.
Os países em desenvolvimento obtiveram um apelo para triplicar a
ajuda financeira destinada à adaptação a um clima mais violento até 2035.
“Não vencemos em todas as frentes, mas obtivemos o triplo dos
financiamentos para a adaptação até 2035. Era a nossa prioridade, tínhamo-la
estabelecido como linha vermelha”, declarou Evans Njewa,
representante do grupo dos 44 países menos avançados do mundo.
O presidente brasileiro da COP30, André Corrêa do Lago, anunciou entretanto a intenção de
lançar uma iniciativa própria sobre o abandono gradual das energias fósseis,
bem como outra contra a desflorestação, para os países voluntários. Todavia,
não se trata de uma decisão geral dos países da COP.
Acho que uma das grandes coisas que vai nos animar nos próximos
meses vai ser esse exercício de desenvolver um mapa do caminho sobre a redução
da dependência de combustíveis fósseis e também de como é que nós vamos
acelerar o combate ao desmatamento.
A presidente da delegação do Parlamento Europeu
à 30.ª Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Lídia
Pereira, saudou o acordo alcançado, sublinhou que a "Europa
conseguiu garantir avanços concretos e evitou um não-acordo, que seria
desastroso para o clima e para o multilateralismo a nível global".
A União Europeia voltou a enfrentar um bloco muito coeso, os
BRICS, o grupo do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e, também, dos
países árabes e, ao mesmo tempo, uma presidência brasileira pouco diligente em
propor ou aceitar novas propostas em particular na área da mitigação, ou seja,
nos compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa. Que,
aliás, foi sempre a nossa prioridade número um.
Apesar de tudo, a União Europeia conseguiu alguns resultados
importantes. Por exemplo, no pilar da mitigação houve finalmente um
reconhecimento claro do défice que existe entre aquilo que está prometido e
acordado e o que é realmente necessário para manter 1,5°C, dentro do quadro do
Acordo de Paris. O texto final inclui uma referência ao Consenso dos Emirados
Árabes Unidos da COP28, no Dubai.
Foi também lançada uma iniciativa bilateral para a transição no
abandono dos combustíveis fósseis. Não é a solução ideal. Não é aquilo que
pretendíamos, mas é um passo relevante no pilar da adaptação. O financiamento
fica protegido dentro daquilo que foi definido nas COP’s anteriores. E há uma
novidade é que os países recomendaram, pelo menos, triplicar o financiamento
até 2035.
ONG ambientalistas denunciaram a ausência de um roteiro concreto
para a saída dos combustíveis fósseis, “mais
uma vez continuou a falhar o essencial”, referem as ong’s
portuguesas Zero, Oikos e FEC - Fundação Fé e Cooperação.
Francisco Ferreira,
presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, sublinha que a
conferência ficou “muito aquém daquilo que aqui se esperava”.
Esta era, supostamente, a COP da verdade e da implementação. E
no que diz respeito à verdade, continuamos, infelizmente, numa trajectória de
aquecimento de 2,5°C em relação à era pré-industrial.
No que respeita à implementação, aí é talvez a maior desilusão,
porque a queima de combustíveis fósseis - onde está a principal
responsabilidade pelo aquecimento da atmosfera - e daqui tinha que sair
um roteiro, que agora é apenas uma promessa fora da convenção por parte da presidência
brasileira para os próximos meses. Quando a mitigação é crucial para garantir
que alteramos esta trajectória de aquecimento, esta conferência está longe
realmente da acção da implementação prometida.
Como balanço final feito pela ZERO, Oikos e FEC, termos aqui, em
Belém, conseguido aprovar textos e o Mutirão, o grande documento-chave com um
conjunto de linhas orientadoras, nomeadamente um acelerador global de
implementação, são avanços, mas esta COP30 falhou naquilo que era
essencial.
Acabou por valer a pena, sem dúvida, mas é sempre triste
chegarmos ao fim e percebermos que as necessidades do planeta e dos
compromissos, principalmente dos países desenvolvidos, ficaram muito aquém
daquilo que aqui se esperava.
A Amnistia Internacional acusa os líderes mundiais de serem
“incapazes de colocar as pessoas à frente dos lucros”. André Julião, Coordenador
Editorial e Assessor de Imprensa da Amnistia Internacional Portugal mostra-se ainda
chocado com a presença e participação dos lobistas do sector petrolífero no
encontro.
Houve aqui questões que ficaram muito abaixo das expectativas.
Desde logo, porque os líderes da COP30 não conseguiram chegar a um acordo para
colocar as pessoas acima dos lucros. Houve uma enorme falta de unidade,
responsabilidade e transparência. Isso prejudicou a implementação de medidas
climáticas urgentes.
A principal decisão da COP30 evitou qualquer menção aos
combustíveis fósseis, que são, como se sabe, o principal motor das alterações
climáticas.
Como agravante, houve um número recorde de lobistas de
combustíveis fósseis. Esses lobistas tiveram acesso às negociações,
nomeadamente através dos Estados que os representam e, portanto, deixaram a
humanidade à mercê das consequências mortais dos seus planos de continuar a expansão
dos combustíveis fósseis.
O Brasil, porém, cumpriu a palavra: a sua COP30 foi a COP
“dos povos”. Dezenas de milhares de militantes do clima, indígenas,
sindicalistas e outros simpatizantes manifestaram-se pacificamente nas ruas de
Belém. A sociedade civil não o fazia desde Glasgow, em 2021. ANG/RFI

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