Brasil/COP30 termina sem avanços nos combustíveis fósseis: "Acordo possível"
Bissau, 23 Nov 25 (ANG) - A ausência de avanços no abandono dos combustíveis fósseis, o aumento do financiamento à adaptação e a criação de um mecanismo para a transição justa marcaram a COP30, que terminou sábado em Belém.
Na 30.ª conferência das Nações Unidas para as
alterações climáticas, que começou dia 10 e terminou no sábado, um dia após o
prazo, quase 200 países chegaram finalmente a um acordo, intitulado Mutirão
Global , numa referência a uma palavra indígena que
representa uma comunidade que trabalha em conjunto para um objetivo comum.
O acordo,
que chegou a temer-se não ser possível de alcançar devido às
divergências entre os vários blocos de países, foi
aplaudido pelo presidente brasileiro, Lula da Silva, como uma vitória do
multilateralismo, mas o secretário executivo da Convenção da ONU para o
Clima, Simon Stiell, disse entender a frustração de alguns países.
Na base
da frustração está o facto de a proposta de Lula da Silva de aprovar um roteiro
para o abandono dos combustíveis fósseis, que tinha o apoio de mais de 80
países, ter sido apagada no acordo final devido à pressão dos
países árabes, Rússia, Índia e China.
"Sei que alguns de vós tinham
ambições maiores", disse o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, no
plenário final, anunciando de seguida que a presidência brasileira irá manter
as discussões sobre o roteiro até à próxima COP, daqui a um ano.
No entanto, esse plano não terá o mesmo
peso de uma decisão oficial aprovada numa conferência da ONU.
Após a aprovação, a Colômbia, que foi um
dos países mais vocais na defesa do roteiro e anunciou a realização de uma
conferência em abril sobre combustíveis fósseis, reagiu com irritação à
ausência de menções a estes combustíveis no acordo.
Aos jornalistas portugueses, a ministra do Ambiente, Maria da Graça
Carvalho, criticou a posição da Colômbia, que acusou de estar a "tentar
dar nas vistas" depois de ter apoiado o acordo.
Para a ministra portuguesa, o acordo aprovado é "o acordo
possível", sublinhando que a alternativa, que seria não haver acordo,
"seria terrível".
O comissário
europeu para o clima, Wopke Hoekstra, admitiu também que os 27 teriam preferido
"mais, e mais ambição em tudo", mas tiveram de apoiar o acordo
porque, "pelo menos, ele aponta na direção
certa".
Outros países fizeram também elogios
contidos ao acordo, dizendo que representava o melhor possível dadas as
circunstâncias difíceis, enquanto outros criticaram o conteúdo e o processo.
"Não posso
chamar a esta COP um sucesso", lamentou a ministra da Transição Ecológica
francesa, Monique Barbut, aos jornalistas. "É um acordo sem ambição, mas não é
um mau acordo no sentido de que não contém nada inaceitável".
O texto pede também esforços para triplicar até 2035 o
financiamento destinado à adaptação de países em desenvolvimento, que
estava em 40 mil milhões de dólares e poderá assim chegar a 120 mil milhões,
mas os países vulneráveis consideraram insuficiente o objetivo.
Os países
desenvolvidos, incluindo a UE, rejeitaram aumentar o total de financiamento
climático público, que deverá somar 300 mil milhões por ano até 2035.
Uma decisão
que foi muito elogiada, nomeadamente pelas associações ambientalistas, foi a
criação de um Mecanismo de Ação de Belém (BAM) para uma Transição Justa,
para apoiar os países na proteção dos trabalhadores e das comunidades durante a
transição para energias limpas.
O Brasil
lançou ainda um fundo inovador que investirá recursos no mercado e
usará os rendimentos para pagar a contribuintes e países que protegem
florestas.
O fundo já recebeu cerca de 5,5 bilhões
de dólares em compromissos iniciais (Brasil, Noruega, Alemanha, Indonésia,
França e Portugal) e a meta final é arrecadar 125 bilhões.
As organizações ambientalistas ouvidas
pela Lusa mostraram-se desapontadas com o resultado da COP30, que disseram
ficar aquém das expectativas, mas reconheceram o avanço na aprovação de um
mecanismo para uma transição justa.
A nível internacional a opinião é
semelhante, com a WWF a considerar o resultado modesto e os poucos avanços
obtidos insuficientes para enfrentar a crise climática, enquanto a Greenpeace
disse não ser o avanço "que o mundo desesperadamente necessita".
"A COP30 dá um passo esperançoso
rumo à justiça, mas não vai longe o suficiente", comentou a rede Climate
Action Network.
A COP30
ficou ainda marcada por ter representado um regresso da sociedade civil a estes
encontros mundiais sobre o clima, após as últimas edições terem
acontecido em países com poucas liberdades cívicas, assim como pela grande
participação de povos indígenas.
No sábado, a meio da COP30, milhares de
ativistas e indígenas marcharam na cidade de Belém contra as alterações
climáticas e para exigir respostas dos líderes reunidos na cidade.
Uma invasão da área restrita da COP30
por dezenas de manifestantes, um protesto de ativistas que bloquearam a entrada
da conferência e um incêndio que levou à evacuação da Zona Azul e ao seu
encerramento durante mais de seis horas foram alguns episódios que marcaram
também a conferência do clima.
Após uma longa disputa entre Ancara e
Camberra sobre quem acolheria a COP31, ficou decidido que a próxima cimeira será
na Turquia, mas a Austrália ficará a supervisionar as negociações oficiais.
A pré-COP, um encontro para consultas
técnicas que ocorre cerca de um mês antes da conferência, será realizada num
Estado insular do Pacífico. ANG/Lusa

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