Escassez da água pode afectar
3,5 mil milhões de pessoas em 2025 se nada for feito – director do FIDA
Bissau, 21 mar 19 (ANG) – O director do
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) apelou terça-feira para
uma intervenção contra a escassez de água, referindo que, “se nada for feito”,
em 2025 haverá 3,5 mil milhões de pessoas afectadas.
“A maior parte dos países africanos está
exposta à escassez da água”, disse Lisandro Martin, um dos oradores da
cerimónia de abertura do primeiro Fórum Internacional sobre a Escassez de Água
na Agricultura, que começou hoje na Cidade da Praia e termina na sexta-feira,
Dia Mundial da Água.
“África tem 37% dos terrenos áridos do
mundo”, disse o director para a África Ocidental e Central do FIDA, assinalando
a luta travada em Cabo Verde contra a seca, como a que atualmente afecta o
território.
Para o director daquela agência das
Nações Unidas, não há tempo a perder nesta matéria, bem ilustrada em alguns
números que apresentou: 1,2 mil milhões de pessoas são afectadas pela falta de
água, 70% da água potável é utilizada na agricultura.
“Há uma necessidade de investir em
recursos hídricos, porque os alimentos precisam de água”, disse.
O encontro que hoje arrancou vai
culminar com a Declaração da Praia, um compromisso no qual o mundo inteiro irá
ser envolvido, segundo Torkil Clausen, presidente do Quadro Global para a Água
na Agricultura (WASAG), um dos promotores deste fórum.
“Vamos assumir este compromisso e depois
levá-lo ao mundo”, disse, sublinhando o papel de Cabo Verde ao propor e acolher
o encontro que hoje começou nas instalações das Assembleia Nacional, na capital
do país.
Numa mensagem de vídeo, na
impossibilidade de estar presente na Cidade da Praia, a subsecretária de Estado
do Governo italiano, Alessandra Pesce, defendeu uma inversão do caminho e
apontou como exemplo a greve de estudantes que na passada sexta-feira mobilizou
milhares de jovens em todo o mundo, num apelo pela defesa do clima.“Isto mostra
que as coisas estão a mudar”, disse.
A representante da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Cabo Verde, Ana Laura
Touza, classificou como um desafio colectivo “o uso da água na agricultura de
uma forma racional”.
Por seu lado, o diretor da Divisão de
Terras e Água da FAO, Eduardo Mansur, considerou que “os desafios são enormes e
não podem ser resolvidos apenas por uma organização”.
“Tem de ser um desafio de todos”,
apelou, afirmando que, “em 2020, a procura da água irá aumentar até 30%”.
Para Eduardo Mansur, “é preciso unir
ideias”, reconhecendo que algumas ideias apresentadas por Cabo Verde no seu
combate à seca e à escassez de água são “entusiasmantes”.
O especialista destacou a importância
das conclusões científicas do evento que hoje começou a serem publicadas num
jornal científico.
O primeiro-ministro de Cabo Verde,
Ulisses Correia e Silva, partilhou com a audiência a luta do arquipélago contra
a seca e a escassez de água.
“Cabo Verde pertence ao conjunto de
países do mundo profundamente afectado pela escassez de água”, disse,
acrescentando que a insularidade agrava ainda mais esta situação, devido aos
custos dos recursos.
Apesar de esta ser uma luta que existe
desde o nascimento de Cabo Verde, as mudanças climáticas vieram agravar os
efeitos que são mais fortes em países insulares em desenvolvimento como Cabo
Verde, declarou o chefe do Governo.
Ulisses Correia e Silva recordou que
Cabo Verde sofreu uma seca em 2014, um furação em 2015, cheias torrenciais em
2016 e em 2017 uma seca severa, que se mantém. Além disso, o vulcão na ilha do
Fogo entrou em erupção em 2014.
“Somos recetores de crises e não
contribuímos para essas crises”, afirmou.
O primeiro-ministro e os outros
participantes do evento visitaram depois uma feira com soluções encontradas
para o fornecimento de água ao setor agrícola e alguns produtos.
Água e migração, água e nutrição,
agricultura salina, uso sustentável da água na agricultura, preparação para
secas e mecanismos financeiros para manuseio sustentável dos recursos hídricos
são os temas que vão ser discutidos durante os quatro dias do fórum.
Estão previstas sessões plenárias e
técnicas e exposições no local do evento, a Assembleia Nacional, bem como
visitas a locais agrícolas na ilha de Santiago, com o intuito, segundo José
Teixeira, de envolver os agricultores.
O fórum é organizado no contexto do
Quadro Global para a Água na Agricultura (WASAG), com o patrocínio do Governo
de Cabo Verde, em colaboração com a FAO, o Ministério das Políticas Agrícolas,
Alimentares e Florestais da Itália e o Serviço Federal de Agricultura da Suíça
(FOAG).
O WASAG foi criado em 2017 pela FAO e
reúne mais de 60 parceiros, incluindo governos e organizações
intergovernamentais, agências da ONU, instituições académicas e de pesquisa, e
organizações da sociedade civil e do setor privado de todo o mundo.
ANG/Inforpress/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário