Bissau,28 Mar 19(ANG) - O presidente da Liga
Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário da Silva, denunciou quarta-feira
que cerca de 20 pessoas foram mortas nos últimos 12 meses, acusadas de prática
de feitiçaria nas diferentes regiões do interior do país.
As
regiões de Quinará, no sul, Biombo no nordeste e Bissorã e São Domingos, no
norte, são as zonas de onde a Liga tem recebido denúncias recorrentes de casos
de mortes ligadas com acusações de prática de feitiçaria, disse à Lusa Augusto
da Silva.
Por
qualquer alegação, os populares partem logo para agressão verbal e física
contra o suspeito da prática de feitiçaria. Por serem localidades distantes dos
centros urbanos, quando a polícia chega já a vítima está morta ou em estado
grave, após espancamentos, disse o dirigente da Liga Guineense dos Direitos
Humanos.
Na semana
passada, a Liga foi informada do espancamento de três pessoas, às mãos de
populares, na aldeia de Maqué, em Bissorã.
Duas
dessas pessoas acabaram por falecer e uma encontra-se em estado grave, correndo
risco de vida, acrescentou o dirigente associativo.
As
vítimas foram acusadas de terem causado uma doença a uma mulher da aldeia.
"A
senhora estava com paludismo agudo, entrou em delírio e começou a chamar nomes
de pessoas" da aldeia, os familiares concluíram que aqueles seriam os
autores da doença e decidiram castigá-los, disse Augusto da Silva.
Levada ao
hospital, após o "castigo aos supostos causadores da sua doença", a
senhora, tratada, voltou ao estado normal, mas já não sabia explicar o que
tinha dito horas antes, reforçou o presidente da Liga dos Direitos Humanos para
demonstrar "o quão falíveis são as acusações de prática de
feitiçaria".
Em São
Domingos, localidade do norte da Guiné-Bissau, que faz fronteira com o Senegal,
uma senhora "foi forçada" a mudar-se para uma aldeia no território
senegalês, porque os populares da sua aldeia guineense "já não queriam
relacionar-se com ela", contou Augusto da Silva.
"Toda
a gente na aldeia dizia que a senhora era feiticeira. Até o merceeiro da aldeia
recusou vender-lhe coisas, com medo do feitiço dela", indicou.
No dia em
que a senhora estava a mudar-se para uma aldeia no Senegal, a polícia de São
Domingos teve que obrigar o dono do transporte público a admitir a mulher no
veículo.
Para o líder
da Liga dos Direitos Humanos, "o ridículo e cúmulo do obscurantismo estão
a ganhar proporções alarmantes" na Guiné-Bissau e é hora de o Estado
atuar, antes que seja tarde, disse.
Augusto
da Silva exortou as autoridades a reforçarem a sensibilização junto das
comunidades rurais, aumentar a presença policial, mas exige uma legislação
específica para desencorajar o fenómeno que disse ser alarmante em certas zonas
do interior.
O
presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos quer "uma lei que puna
qualquer menção de que fulano ou beltrano é feiticeiro". ANG/Lusa
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