quarta-feira, 24 de março de 2021

 Rio Nilol/Construção de barragem  aumenta tensões entre Etiópia, Sudão e Egipto

Bissau, 24 Mar 21 (ANG) A importância da água aumenta a  tensão  entre o Egipto e o Sudão, por um lado, e a Etiópia, por outro, devido à construção de uma nova mega-barragem no rio Nilo por parte da Etiópia.

Os três países ainda não acordaram os volumes de água que devem passar para jusante, um recurso vital para os países da região, a braços com vastas áreas desérticas. 

As águas estão turbulentas no rio Nilo, o maior do mundo, com mais de 7000 km de comprimento, porque a Etiópia está agora a encher a Grande Barragem da Renascença Etíope, o maior projecto hidroelétrico jamais construído em África e que segundo as autoridades etíopes deverá começar a produzir electricidade a partir de junho de 2021.

O problema é que Addis Abeba, por um lado, e o Egipto e o Sudãonunca acordaram os volumes de água que deveriam passar para jusante.

Ora a água do Nilo é vital para o Sudão e o Egipto: 97% da toda a água para consumo humano e para a agricultura no Egipto, por exemplo, depende do Nilo, que atravessa o imenso deserto do Saara de sul para norte. Os dois países também têm várias barragens no rio, que produzem grande parte da eletricidade que consomem.

Vários peritos apontam para consequências dramáticas a jusante como secas prolongadas, uma redução substancial da produção agrícola e a falta de água potável.

Tanto o Cairo quanto Khartoum, têm dito repetidamente que consideram a barragem etíope como uma ameaça existencial e têm redobrado esforços para conseguir um acordo, sem sucesso. Talvez por isso o Egipto tem-se aproximado de todos os vizinhos da Etiópia Sudão, Sudão do Sul, Quénia e Eritreia, no sentido de aumentar a pressão sobre Addis Abeba, e neste mês de março o Cairo e Khartoum assinaram um acordo de cooperação militar, enquanto o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi visitava a capital sudanesa.

Embora o marechal al-Sisi continue a repetir que elimina a opção militar para resolver a disputa, a verdade é que todos os esforços diplomáticos têm falhado até agora e a tensão tem aumentado, até por que Sudão e a Etiópia também disputam uma parte da fronteira comum, que ambos os países reclamam, na zona de Al-Fashaqa, uma área agrícola entre as regiões etíopes de Amhara e Tigray e o estado sudanês de Gedaref.

Nos últimos meses os exércitos dos dois países envolveram-se em alguns combates nessa região, que já deixaram vários soldados mortos.

O Egipto já levou o assunto da barragem ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em junho de 2020, quando a Etiópia anunciou que estava a começar a encher a primeira fase da barragem, mas as negociações entre os três países, moderadas pela União Africana, colapsaram em janeiro deste ano. Cairo quer uma mediação conjunta da UA, mas também da União Europeia, dos Estados Unidos e da ONU, algo que a Etiópia recusa.

Com Addis Abeba a planear nos próximos meses o enchimento da segunda fase da barragem – mais 13 mil milhões de metros cúbicos de água - e com o verão a aproximar-se, a tensão parece estar a subir, ao contrário da água do Nilo, esse bem tão precioso, e agora no centro de uma disputa regional, com consequências imprevisíveis.ANG/RFI

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