Cabo Verde/José Maria Neves propõe pacto de paz para África centrado no "património"
Bissau,
29 Mai 25 (ANG) - O Presidente cabo-verdiano defendeu na quarta-feira um novo
pacto de paz duradouro para África, centrado na valorização do património
natural e cultural, numa mensagem aos chefes de Estado e de Governo dos países
membros da União Africana.
"Trago-vos
uma proposta: a de colocarmos o nosso património, a nossa herança comum, no
centro de um novo pacto continental de paz duradouro. É chegado o tempo de
agir, de forma conjunta, coordenada e visionária", afirmou José Maria
Neves, numa mensagem transmitida por ocasião do Dia de África, celebrado em 25
de maio.
O Presidente propôs ainda a adoção de uma
carta africana do património natural e cultural, com o compromisso de canalizar
1% dos orçamentos nacionais para a sua preservação, garantindo mecanismos de
transparência e participação cidadã.
Entre outras medidas, apontou a criação de um
fundo africano para os oceanos, financiado por uma taxa simbólica sobre os
cargueiros que cruzam águas africanas.
Além disso, sugeriu o reforço do fundo
africano do património mundial, com recursos provenientes de 0,5% das receitas
do turismo e das indústrias extrativas.
"Neste esforço de valorização do nosso
legado comum, a União Africana deve continuar a desempenhar um papel
catalisador, promovendo sinergias entre Estados, investigadores, comunidades e
agentes culturais. Através de plataformas como a Agenda 2063 e da Carta para o
Renascimento Cultural de África, podemos consolidar o tecido institucional e
jurídico necessário para transformar o património em pilar de governação, coesão
social e identidade continental", acrescentou.
José Maria Neves alertou para ameaças
concretas, como a desflorestação, a perda acelerada de línguas locais e o
abandono de patrimónios históricos, como a antiga hidrobase da Aéropostale, na
cidade da Praia, "cuja história permanece, ainda hoje, invisível e por
contar".
Apesar dos desafios, destacou sinais
encorajadores, como os efeitos positivos da Grande Muralha Verde e o regresso
de bens culturais ao Benim, exemplos que demonstram "que o património
africano pode ser uma poderosa alavanca para o bem-estar, a reconciliação e a
prosperidade".
Apelou também à criação de uma rede africana
de guardiões do património, reunindo líderes tradicionais, cientistas,
artistas, jovens e autoridades locais, sublinhando o papel crucial da juventude
e da tecnologia na preservação ambiental e cultural.
"Porque o desenvolvimento não se mede
apenas em estradas, mas também no sorriso de uma criança que aprende a língua
dos seus avós", afirmou, defendendo que África pode liderar uma nova visão
de prosperidade, baseada na harmonia entre povos, cultura e natureza.
"Sentemo-nos, juntos, à sombra da árvore
do nosso património comum. Ouçamos o murmúrio dos rios e das gerações que nos
precederam. E construamos, com coragem e ternura, uma África onde a paz não
seja ausência de guerra, mas presença de beleza, dignidade e alegria
partilhada", concluiu. ANG/Lusa

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