Cabo Verde/Presidente Neves defende reinvenção estratégica da CEDEAO
Bissau, 28 Mai 25 (ANG) - O presidente cabo-verdiano
defendeu hoje que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) precisa de uma reforma estratégica adaptada às transformações
económicas, tecnológicas e geopolíticas da região, que vá além de "ajustes
técnicos ou estruturais".
"Os desafios que se colocam hoje à região
impõem uma reflexão crítica e uma renovada ambição. A CEDEAO deve ser capaz de
se reinventar face às profundas transformações económicas, às rápidas evoluções
tecnológicas e às novas dinâmicas geopolíticas que moldam o século XXI",
afirmou José Maria Neves, em comunicado, a propósito do 50.º aniversário da
organização.
O chefe de Estado disse que essa reforma não pode limitar-se a
"ajustes técnicos ou estruturais", defendendo que "exige uma
redefinição estratégica do seu mandato, dos seus instrumentos e das suas
prioridades, com vista a garantir uma integração verdadeiramente eficaz,
resiliente e inclusiva".
"A instabilidade política, os golpes de Estado, as ruturas
constitucionais e as ameaças terroristas que afligem a sub-região recordam-nos
que a paz continua a ser uma construção frágil e inacabada", alertou.
Considerou que a prosperidade duradoura só é possível onde
existirem instituições legítimas, justiça social e respeito pelos direitos
fundamentais, pelo que "a revitalização da CEDEAO deve passar por um compromisso
inequívoco com a democracia, o Estado de direito e os direitos humanos",
afirmou.
O Presidente cabo-verdiano apontou ainda a importância de
revalorizar o protocolo da CEDEAO sobre democracia e boa governação, adotado em
2001.
"Este instrumento fundamental consagrou, de forma pioneira,
os princípios da governação legítima, da justiça social e da prevenção de
conflitos (...) é urgente garantir a sua plena implementação", afirmou
José Maria Neves, que reiterou o apoio de Cabo Verde a uma governação democrática,
transparente e participativa na sub-região.
"A paz não se define apenas pela ausência de conflito
armado" e construir sociedades pacíficas "exige não apenas
instituições eficazes, mas o envolvimento ativo da sociedade civil e o reforço
da cidadania", defendeu.
"Uma CEDEAO verdadeiramente transformadora será aquela que
escuta os seus povos, que promove o diálogo local e que valoriza a diversidade
como força", afirmou.
Neste contexto, defendeu um maior envolvimento da juventude da
África Ocidental no processo de integração.
"Representando mais de 60% da população regional, os jovens
devem estar no centro das estratégias de integração, inovação e transformação
social. Investir na juventude, na sua educação, participação política e
potencial criativo é investir na paz duradoura, na resiliência democrática e no
futuro da região", sustentou.
"A celebração deste cinquentenário é mais do que uma
evocação do passado, é um apelo à ação. Inspirados pelas conquistas acumuladas
e conscientes dos desafios que se avizinham, devemos renovar o nosso
compromisso com uma CEDEAO capaz de conjugar desenvolvimento económico com
justiça social, e progresso material com cultura de paz", concluiu.
A CEDEAO celebra hoje o 50.º aniversário com uma cerimónia em
Lagos, Nigéria, com a presença dos presidentes dos países-membros para elogiar
as conquistas do bloco e traçar um novo rumo para o futuro.
A escolha de Lagos, capital económica da Nigéria, como sede da
celebração tem uma explicação histórica, pois foi naquela cidade que a
organização foi fundada, em 28 de maio de 1975, com a assinatura do Tratado de
Lagos.
O tratado foi então assinado por Nigéria, Gana, Senegal, Burkina
Faso, Costa do Marfim, Benim, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra Leoa,
Mauritânia, Mali, Libéria, Níger e Togo.
Cabo Verde aderiu em 1977, enquanto a Mauritânia abandonou o
bloco em 2000.
Atualmente, a organização é composta por 12 Estados, após a
saída em janeiro passado de Burkina Faso, Níger e Mali, países governados por
juntas militares, que criaram a Aliança dos Estados do Sahel.ANG/Lusa

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