Suíça/"Apenas um terço dos países africanos cumpriu financiamento de educação"
Bissau, 16 Jun 25 (ANG) - A Human Rights Watch (HRW)
alertou hoje que a maioria dos governos africanos tem falhado consistentemente
em cumprir as metas globais e regionais de financiamento da educação para
garantir uma educação pública de qualidade.
Este alerta foi dado no
Dia da Criança Africana da União Africana (UA), numa edição em que o tema
consiste no "planeamento e orçamento para os direitos das crianças:
progresso desde 2010".
Segundo a HRW, "com base nos dados nacionais comunicados à
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
apenas um terço dos países africanos cumpriu os padrões de financiamento da
educação aprovados globalmente para a despesa média anual durante a década de
2013 a 2023".
O Organização Não-Governamental (ONG) refere ainda em comunicado
que "este número diminuiu para apenas um quarto dos países em 2022 e
2023".
Ou seja: catorze países africanos não cumpriram nenhum dos
padrões em nenhum ano da última década.
"Os chefes de Estado e de Governo africanos e a UA
assumiram compromissos ousados em matéria de investimento nacional na
educação", reconhece Mausi Segun, diretora para a África da HRW,
acrescendo, porém, que "os governos não estão a traduzir esses
compromissos em financiamento sustentado e muitos reduziram, na verdade, os
níveis de despesas nos últimos anos".
A insuficiência dos gastos públicos com educação compromete as
obrigações legais dos Governos africanos de garantir o ensino primário gratuito
e obrigatório de qualidade e tornar o ensino secundário disponível, acessível e
gratuito para todas as crianças, refere a ONG, para quem esta situação
compromete, também, os "compromissos políticos com a UA e as metas e
referências internacionais de desenvolvimento".
Em 2015, os Estados-membros da UNESCO, incluindo todos os 54
Estados africanos, concordaram em aumentar os gastos com educação para pelo
menos 4 a 6% do produto interno bruto (PIB) e/ou pelo menos 15 a 20% do total
dos gastos públicos.
Segundo a HRW, apesar destas obrigações e compromissos globais,
os governos não conseguiram eliminar as propinas e outras taxas escolares,
particularmente ao nível pré-primário e secundário, o que levou a um acesso
desigual, retenção e má qualidade nas escolas, com um impacto desproporcional
nas crianças das famílias mais pobres.
As famílias em toda a África continuam a suportar um enorme
fardo no financiamento da educação, absorvendo 27% do total das despesas com a
educação, de acordo com dados do Banco Mundial de 2021, citados no comunicado.
África tem as taxas de abandono escolar mais elevadas do mundo,
com mais de 100 milhões de crianças e adolescentes estimados fora da escola em
todas as sub-regiões, exceto no Norte de África.
As taxas de abandono escolar aumentaram desde 2015 por razões
que incluem o aumento da população, as persistentes disparidades de género, os
efeitos cumulativos do encerramento das escolas devido à covid-19, as
emergências climáticas e os conflitos.
Ainda, segundo o comunicado, "muitas crianças também
abandonam a escola devido à violência de género relacionada com a escola, bem
como a medidas discriminatórias e excludentes contra raparigas grávidas e mães,
refugiados e crianças com deficiência, entre outras práticas negativas".
Segundo dados da UNESCO e da investigação da HRW, "apenas
14 países garantem o acesso gratuito à educação, desde pelo menos um ano de
pré-primária até ao ensino secundário, apenas 21 garantem o acesso gratuito a
12 anos de ensino primário e secundário, enquanto seis garantem legalmente o
acesso a pelo menos um ano de ensino pré-primário gratuito".
Muitos países africanos continuam a investir pouco na educação
pública para gerir emergências relacionadas com o clima e crises relacionadas
com conflitos e "vários governos africanos estão a aplicar medidas de
austeridade regressivas para pagar os juros da dívida", conclui a HRW.ANG/Lusa

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