Senegal/ Encerrada última base militar francesa em toda a África Ocidental
Bissau, 17 Jul 25 (ANG) - A última base militar francesa na África Ocidental, símbolo da reconfiguração global da cooperação no sector da defesa entre a França e o continente africano, encerra esta, quinta-feira, no Senegal.
Para o Senegal, esta saída marca o fim da
presença permanente do exército francês desde a época colonial. Em seis
décadas, que benefícios tirou o Senegal desta presença militar francesa no seu
território? Como passará a ser realizada a cooperação militar entre os dois
países?
Entrevistámos,
a propósito desta retirada militar francesa, o consultor político e professor
na Universidade Cheikh Anta Diop, Oumar Diallo.
Para o Senegal, esta saída marca o fim da presença permanente do
exército francês desde a época colonial. Em seis décadas,que benefícios tirou o
Senegal desta presença militar francesa?
Esta
presença foi uma presença também diplomática e estratégica. E não podemos dizer
que tenha sido inútil para o Senegal. Foi aliás uma presença útil para as
forças de segurança senegalesas.
Foi útil em que sentido?
No
sentido da formação, porque o Senegal e a França têm desde muito tempo uma uma
cooperação privilegiada. Uma cooperação militar e económica que o Senegal
sempre reivindicou com França. E ajudou também a formar, digamos assim, os
oficiais senegaleses.
Esta retirada significa que, hoje, o Senegal pode-se abster
desta ajuda militar francesa, ou considera que esta decisão se alinha num
quadro ideológico de contestação à presença do antigo colonizador que é a
França?
Vou
retomar uma das declarações do presidente Bassirou Diomaye Faye que dizia que a
presença de bases militares estrangeiras não se justifica mais. Porque não
estamos em guerra e que a nossa soberania deve ser plena. Esta frase pode ser a
resposta justa, se considerarmos que a presença militar estrangeira durou muito
tempo. Para o novo regime, tratava-se de uma promessa eleitoral, acabar com
todo o tipo de presença militar estrangeira. Esta data de 17 de Julho de 2025 é
histórica. É uma data programada de entrega oficial de todas as bases militares
ao Senegal.
Como referiu, a saída dos militares franceses era uma promessa
eleitoral de Bassirou Diomaye Faye e Ousmane Sonko do Pastef actualmente no
poder. Mas a França e o Senegal já vêm negociando o fim da presença militar
francesa no território desde 2022, já sob Macky Sall, e os primeiros
retrocedimentos efectuaram-se a partir de 2023.
Sim,
e foram continuando. Há uma data muito importante: 12 de Fevereiro de
2025, em que foi criada a comissão conjunta franco-senegalesa para organizar a
retirada das tropas francesas. Depois, já no dia 7 de Março, o exército francês
começou a entregar algumas instalações nas bases em Dacar. Portanto, é um
processo que levou muito tempo e que não foi só com o governo de Sonko, mas
podemos dizer que se acelerou desde a chegada de Sonko e Diomaye Faye ao poder.
Os dois países, França e Senegal, têm repetido que não se trata
de uma ruptura na cooperação militar, mas sim de uma reestruturação. De que
tipo de reestruturação se trata?
Vai
haver uma outra forma de cooperação, em termos de formação, de troca de
informações ou material militar. Durante todo este percurso político, Diomaye
Faye e Ousmane Sonko prometeram que iria haver uma ruptura com as práticas
antigas. Que haverá uma nova postura africana. Mas isto de forma ordenada,
sem ruptura total. A cooperação continuará. Políticamente, podemos dizer que se
trata de uma vitória simbólica e estratégica para o Presidente e o governo de
Sonko.
Nesta nova fase de cooperação militar entre os dois países, dois
sectores serão privilegiados: a cibercriminalidade e a segurança marítima. Confirma?
Confirmo.
O Senegal precisa desta cooperação. Haverá treinamento, troca de informações e
apoio técnico. É preciso também recordar que estamos numa zona do Sahel
pouco estável em termos de segurança e devido ao terrorismo. Mas para além da
cooperação militar, vai continuar também a cooperação nas áreas culturais,
educativa, económica etc. A postura do governo senegalês é uma reafirmação da
soberania. Isso não quer dizer que haja hostilidade entre o governo senegalês e
a França. Trata-se de um processo negociado, organizado e diplomático de
retirada, com comissões conjuntas entre os dois países. Por outro
lado, a decisão do Senegal ecoa com um sentimento crescente no continente
africano. Os africanos - e a juventude africana particularmente - reivindicam
maior autonomia, sobretudo nas questões militares, económicas, diplomáticas.ANG/RFI

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