quinta-feira, 22 de abril de 2021

                                     Transição/ Chade mergulhado na incerteza

Bissau, 22 Abr 21 (ANG) - Um dia depois de ser anunciada a morte do Presidente Idriss Déby que, segundo o exército chadiano, sucumbiu a ferimentos após ser baleado quando estava a combater contra rebeldes no norte do país no passado fim-de-semana, o Chade continua mergulhado na incerteza.

Após 30 anos com Idriss Déby no poder, os chadianos vêem agora o seu destino nas mãos de Mahamat Déby, filho do falecido Presidente, que aos 37 anos assume desde terça-feira a liderança interina do poder sustentado por um Conselho Militar de Transição formado por 15 generais durante os próximos 18 meses.

Apesar de se constatar um aparente regresso a uma actividade normal em vários pontos do país, nomeadamente com a reabertura das fronteiras, e apesar também do novo homem forte do Chade, Mahamat Déby, declarar ainda terça-feira que o exército pretende entregar o poder a um governo civil e organizar eleições livres e democráticas dentro de um ano e meio, o tom é ofensivo entre os adversários do poder instalado.

Os rebeldes da Frente para a Alternância e a Concórdia no Chade (FACT) que conduzem há uma dezena de dias uma ofensiva a partir da Líbia contra o regime de N'Djamena, rejeitaram firmemente o Conselho Militar e prometeram continuar a sua operação depois das exéquias de Idriss Déby, na sexta-feira.

Quanto aos principais partidos de oposição, eles denunciaram  o que qualificaram de "golpe de Estado institucional" e apelaram à "instauração de uma transição dirigida por civis".

A nível internacional, predomina a expectativa. Em comunicado, o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell avisou que "a transição anunciada deve der limitada, desenrolar-se de forma pacífica, no respeito dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais e deve permitir a organização de novas eleições inclusivas".

A França que  confirmou a presença do seu Presidente no funeral de Idriss Déby dentro de dois dias, também opta pela prudência. Depois de o Eliseu lamentar  a perda de um "amigo corajoso", o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves le Drian, apelou a uma transição militar com "duração limitadae que esta última resulte na instalação de "um governo civil e inclusivo".

Noutro aspecto, o governo francês também expressou a sua preocupação ao perder aquele que era considerado um dos seus principais apoios no combate ao jihadismo no Sahel. Em declarações públicas, a Ministra francesa da Defesa, Florence Parly, considerou que "A França perde um aliado essencial na luta contra o terrorismo no Sahel. O presidente Déby tinha, nomeadamente, tomado a decisão de mobilizar o batalhão chadiano, uma unidade de 1 200 homens, na zona das 3 fronteiras. Não duvido que possamos prosseguir este processo que tinha sido iniciado com coragem de há vários anos a esta parte."

Por seu turno, em comunicado, a Human Rights Watch considerou que "as consequências potencialmente explosivas da morte do Presidente Déby não podem ser subestimadas, tanto para o futuro do Chade como de toda a região", a ONG de defesa dos Direitos Humanos não deixando de lamentar que "os ocidentais tenham fechado os olhos durante anos perante os atropelos à liberdades fundamentais no Chade em nome da luta contra o terrorismo".ANG/RFI

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