Suíça/Poder judicial na Guiné-Bissau continua vulnerável
Bissau, 18 Jul 25 (ANG) - O poder judicial na Guiné-Bissau "continua vulnerável à interferência política e pressão das redes criminosas", de acordo com conclusões hoje adotadas pelo Comité de Direitos Humanos da ONU, que apela também às autoridades para respeitarem o espaço cívico.
"Apesar das garantias constitucionais, o poder judicial continua vulnerável à interferência política e à pressão das redes criminosas. O Comité instou o Estado [da Guiné Bissau] a reforçar a independência e o funcionamento do poder judicial, nomeadamente através da atribuição de mais recursos ao sistema judicial", lê-se nas observações finais sobre o relatório relativo à Guiné-Bissau, um dos países analisados na 144.ª sessão do comité, concluída na quinta-feira em Genebra, Suíça.
Ainda que reconhecendo que Bissau iniciou um processo de reforma
constitucional, o Comité lamenta que este esteja incompleto devido à dissolução
do Parlamento, e, no capítulo dedicado à administração da justiça e
independência do poder judicial, assinala a sua "séria preocupação"
com a contínua vulnerabilidade "a interferências e intimidações, incluindo
por parte de funcionários governamentais e de redes criminosas".
O comité - o órgão de peritos independentes que controla a
aplicação do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos pelos
Estados - "lamenta igualmente a falta de transparência na nomeação,
transferência e demissão de juízes e magistrados do Ministério Público, bem
como a falta de composição do Conselho Superior da Magistratura".
"Embora iniciativas como o Candongas de Justiça tenham
visado melhorar o acesso à justiça, o Comité nota com preocupação que o sistema
de justiça formal continua a enfrentar sérios desafios, incluindo recursos
limitados e a ausência de tribunais em muitas regiões. O Comité nota com pesar
as barreiras à assistência jurídica, incluindo as elevadas custas judiciais, e
a ausência de um sistema abrangente de assistência jurídica", prossegue.
Exortando as autoridades a prosseguirem os seus esforços para
reformar o sistema de justiça e assegurar que todos os processos judiciais são
conduzidos em plena observância das garantias de um processo justo", o
comité deixa uma série de recomendações.
Entre elas recomenda "acelerar a finalização, a adoção e a
implementação efetiva das reformas legislativas atualmente em desenvolvimento,
incluindo a Lei Orgânica do Supremo Tribunal de Justiça, a Lei de Organização
Judiciária, a Lei Orgânica dos Tribunais Setoriais, o Estatuto dos Magistrados
e os Regulamentos do Conselho Superior da Magistratura, com vista a reforçar a
independência, a estrutura e o funcionamento do poder judicial".
O comité aconselha um aumento da capacidade do sistema judicial,
"nomeadamente através do aumento dos recursos financeiros (...) e a
disponibilidade de juízes formados, procuradores e defensores públicos", e
a salvaguarda, "na lei e na prática, da plena independência,
imparcialidade e segurança dos juízes e dos magistrados do Ministério
Público", prevenindo influências externas na forma de "pressão
política indevida ou outra".
Outro destaque das observações finais do comité das Nações
Unidas prende-se com as liberdades de reunião e de associação e proteção dos
defensores dos direitos humanos.
Este órgão da ONU diz que "toma nota das garantias
constitucionais e legais da liberdade de reunião pacífica", mas manifesta
preocupação com um "comunicado de imprensa de janeiro de 2024 do
Comissário da Polícia Nacional, que restringe indevidamente o direito de
reunião pacífica e que foi alegadamente utilizado para obstruir a organização
de manifestações pacíficas".
"O Comité lamenta a falta de informações sobre as investigações
destes incidentes, os processos instaurados, as sanções impostas e as
indemnizações concedidas às vítimas", e diz-se "preocupado com os
relatos de intimidações e ameaças contínuas contra os defensores dos direitos
humanos, incluindo os membros da Liga Guineense dos Direitos Humanos".
A terminar, o Comité dá conta da sua preocupação com "a
falta de salvaguardas para proteger o espaço cívico, particularmente no período
que antecede as eleições de novembro de 2025", e com "relatos de
interferência com as atividades sindicais, incluindo a apreensão pela polícia
da sede da União Nacional dos Trabalhadores Guineenses em maio de 2023,
prejudicando a autonomia dos sindicatos e o exercício da liberdade de
associação".
Além da Guiné-Bissau, foram analisados na sessão agora concluída
em Genebra os desenvolvimentos em matéria de defesa dos direitos humanos no
Haiti, Cazaquistão, Letónia, Macedónia do Norte, Espanha e Vietname. ANG/RFI

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