Sociedade/Fome severa ameaça população de Guirondje
Por
Salvador Gomes, da ANG
Bissau, 24 Mai 24 (ANG) - A povoação de Guirondje, uma secção do sector de Mansabá, região de Oio, no Norte da Guiné-Bissau pode enfrentar fome severa, se nada for feito.
Alterações climáticas estão a ser sentidas nas produções de arroz e nas de caju. Muitas bolanhas onde se produziam arroz,já não rendem o que rendiam e a solução para essa insuficiência de alimento base das população guineenese tem sido o caju. Acontece que este ano, os pomares de caju se atrasaram na produção, para além de outras anomalias que apresentam: muitos pomares apresentam cajueiros a secar.
“No ano passado, à esta
altura muitos de nós já tinham duas toneladas de caju. Este ano, até agora
ninguém conseguiu mais de dois sacos(200 quilos)”, contou Braima Mané, um dos
agricultores da comunidade de Guirondje.
No âmbito de uma formação de
jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social nacional sobre
“Abordagem das Questões Relativas às Mudanças Climáticas pela Midia”, os
formandos realizaram, no passado dia 18
de Abril , uma visita de campo à população de Guirondje.
Eram quase 11H00 mas as
temperaturas ja rondavam os 38ºC. Respirava-se ar quente. Temperaturas que não
se registavam tempos atrás, e os
camponeses de Guirondje dizem estar a secar as flores de caju. Quem diz caju
diz manga. Via-se que alguns mangueiros não apresentam flores, quer dizer que
não vão produzir este ano.
Com os pomares de caju a não
renderem, impõe-se o problema de adaptação. Os camponeses de Guirondje falam em
voltar a lavoura das bolanhas. A comunidade dispõe de bolanha de água doce onde
tem sido praticada a agricultura tradicional, que depende de força física.
“A solução é voltar a
lavoura nas bolanhas, mas utilizando máquinas, adubos e fertilizantes. As nossas
mãos não são capazes de produzir o suficiente para a nossa subsistência”, disse
Braima Mané reiterando que necessitam de apoios
em máquinas agrícolas, meios para irrigação das suas bolanhas, para assim
poderem produzir nas épochas seca e chuvosa. Quer dizer que a capacidade de se
criar resiliências depende de apoios externos.
Pessoas abordadas no âmbito
dessa visita foram unânimes no reconhecimento de que muito mudou em termos de
quantidade de chuva, nível de temperatura e áreas de cultivo.
Pouco falaram sobre a
desmatação que tem sido prática corrente nas diferentes tabancas de
agricultores. Parte de responsabilidades
pelas mudanças climáticas que ocorrem atualmente tem sido atribuída à desmatação
de florestas, um rudi glope à capacidade de absorção de dióxido de carbono, e
de oxigenação do meio ambiente.
A secção de Guirondje conta
com mais de dois mil habitantes e a sua população tem a agricultura como
principal meio de subssitência. O Imame local, Inussa Turé diz que a comunidade
enfrenta muita dificuldade alimentar. Conta que muitas bolanhas secaram e os pomares de caju
que têm sido o recurso para o sustento familiar jão não rendem como dantes, ora
por problemas de preço ora pela quantidade de produção.
O Governo fixou o preço
mínimo de compra de caju junto ao
produtor em 300fcfa, o quilo,mas em
Abril o caju era comprado no local a 200fcfa, o quilo.
A época chuvosa inicia
normalmente em Maio. Se o tempo cumprir o que tem sido o habitual – começar a
chover em Maio, receia-se que muitos pomares em florestação ficarão distruídas,
e por conseguinte, não terão qualquer produção. Au longo do trajeto
Mansoa-Farim vê-se que muitos pomares ainda se encontravam na fase de florestação,
portanto sem caju.
A Guiné-Bissau se situa nas
zonas de maiores prejuízos económicos resultantes
de mudanças climáticas, em África.
Em Guirondje são as mulheres
que estão na linha de frente quanto as atividades de mitigação ou tentativas de
mitigação dos efeitos das alterações climáticas. Mudaram das bolanhas para campos
de hortaliças, mas a produção deixa muito a desejar, devido à dificuldades de
falta de água para regar as plantações de couve, cenoura, pepino, quiabo e
outras. SG
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