Moçambique/Norte do país regista crise humanitária "cada vez mais profunda"
Bissau, 07 Jul 25 (ANG) - A ONU alerta que o norte de Moçambique registou, em junho, uma crise humanitária "cada vez mais profunda", causada pela escassez de financiamento, desastres naturais e escalada de violência armada na província de Cabo Delgado.
A escalada da violência por parte dos grupos
armados não estatais continuou a provocar novas deslocações, a perturbar os
serviços essenciais, a restringir severamente os movimentos, a exacerbar a
insegurança alimentar e a impedir a prestação de assistência vital",
refere-se no relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de
Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).
A província de Cabo Delgado, situada no norte
do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou
milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas
deslocadas.
As novas movimentações de extremistas no
norte de Moçambique incluem Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, onde,
desde a sua eclosão em 29 de abril, provocaram pelo menos duas mortes: dois
guardas florestais decapitados.
De acordo com o OCHA, em 24 de junho, 568
pessoas, incluindo 324 crianças, fugiram dos ataques de grupos armados na
aldeia de Quinto Congresso, no distrito de Macomia, em direção "à já
sobrelotada" sede distrital, elevando o número total de deslocados pelo
conflito para 48 mil desde um de janeiro, muitos necessitando urgentemente de
alimentos, abrigo, bens de primeira necessidade e água potável.
"O conflito continua a ter impacto nas
necessidades de proteção das pessoas. No início de 2025, Cabo Delgado viu um
aumento de 22% nos casos de violência baseada no género relatados em comparação
com 2024, devido à melhoria das denúncias e à crescente consciencialização, mas
também ressalta o impacto do conflito específico de género", explica.
O documento acrescenta que o Governo
facilitou o regresso das populações às suas zonas de origem nos distritos de
Macomia, Metuge e Montepuez, em Cabo Delgado, e recentemente em Mecula, no
Niassa, "em grande parte devido à inadequada assistência humanitária e à
sobrelotação dos locais de deslocação".
Segundo o OCHA, a população que regressa não
encontra nada nas suas áreas de origem, "uma vez que as suas casas,
parcelas agrícolas e meios de subsistência foram destruídos e os serviços
básicos não foram restaurados", e os que optaram pela reinstalação
"verificaram que os locais propostos não dispunham de serviços
essenciais".
A agência das Nações Unidas apontou ainda
para a persistência das "necessidades e lacunas" pós-ciclone,
explicando que, com as restrições de financiamento, as pessoas afetadas pelos
três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas,
provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país, "não receberam
assistência adequada".
"As primeiras avaliações realizadas
desde março nos distritos de Lalaua e Muecate em Nampula revelaram que um total
de 70 mil pessoas foram afetadas pelos ciclones mas não receberam assistência
desde março", avança.
Outro problema apontado pelo OCHA refere-se
ao declínio em cerca de 26% no financiamento humanitário entre 2024 e 2025,
caindo de 74 milhões de dólares (62,8 milhões de euros), para 55 milhões de
dólares (46,7 milhões de euros).
"Como resultado, cerca de 260 mil pessoas ficaram sem acesso a serviços de higiene, enquanto 200 mil pessoas continuam sem abrigo adequado (..). Além disso, o programa de recolha de amostras laboratoriais, que servia 25 mil pessoas por mês, principalmente pessoas com VIH e tuberculose, foi abruptamente interrompido", acrescenta.ANG/Lusa

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