Saúde pública/Um hospital para 23 ilhas habitadas do Arquipélago de Bijagós
Bissau, 07 Jul 25(ANG) - O Arquipélago de Bijagós com cerca de 33 mil pessoas divididas por 23 ilhas habitadas, conta com um único hospital, instalado em Bubaque, salientou à Lusa Élcio Marques Vieira, enfermeiro na ilha de Formosa.
Élcio e dois outros enfermeiros trabalham no centro de
saúde de Formosa, mas deviam atender de forma regular as populações das ilhas
vizinhas de Tchedignha, Nghago e Maio, o que nem sempre conseguem devido à
falta de meios de transporte.
Mesmo para casos graves de crianças ou
grávidas, Élcio e a sua equipa sentem "muitas dificuldades" para
transportar os doentes para o hospital de Bubaque, contou à Lusa.
"Somos um centro de saúde tipo C
para cuidados primários. Recebemos o doente e damos assistência durante três
dias, se não melhorar teremos de o levar para Bubaque, onde existe um hospital
regional", explicou.
Para estas e outras deslocações, a
equipa de Élcio acaba por recorrer às canoas de pescadores, mesmo sabendo que
"não têm as mínimas condições" para transportar doentes ou
medicamentos em condições de segurança.
"Por exemplo, neste momento, não
temos paracetamol em xarope, só vamos ter isso talvez para a semana",
observou.
O enfermeiro gostava que o Governo
ampliasse o centro de saúde de Formosa para albergar mais técnicos que
atualmente praticamente partilham o mesmo espaço.
"É preciso ampliar o centro para
criar uma pequena pediatria e também separar as salas de consultas para adultos
e para crianças", defendeu Élcio Marques Vieira, que trabalha nas ilhas
Bijagós há cerca de dez anos.
Antes de chegar ao centro de saúde de
Formosa, Élcio trabalhou nas ilhas de Unhocume e Sogá.
A enfermeira Tamara Fernandes Monteiro
Sá trabalhou nas ilhas de Caravela, Bubaque e Uno entre 2014 e 2020, até
regressar ao Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, mas não se esqueceu das
dificuldades experimentadas para "resolver os problemas dos doentes,
sobretudo das grávidas".
"Há ilhas perto de Bubaque às quais
não é fácil aceder, a não ser que a
pessoa venha até Bissau e apanhar uma piroga", exemplificou Tamara Sá,
enaltecendo os apoios que recebia de um projeto das Organizações Não
Governamentais (ONG) que trabalham na zona.
A enfermeira considera as ilhas Bijagós
como zona rica, mas onde existe "pouca produtividade" e "falta
de tudo", nomeadamente transportes e agências de transferência de
dinheiro, o que acaba por encarecer os produtos de primeira necessidade.
O arroz, base da dieta alimentar dos
guineenses, é vendido quase ao dobro do preço em relação à zona continental do
país, disse Tamara Sá, salientando que o produto vem de Bissau.
"Digamos que não há dinheiro em
circulação nas ilhas" Bijagós, observou a enfermeira.
O pescador Ibraima Barros, baseado na
ilha de João Vieira Poilão, está contente que o arquipélago dos Bijagós seja
considerado Património Mundial Natural pela UNESCO, mas já vê com maus olhos a
possibilidade de aumentar o interesse de mais visitantes à região.
"Haverá grande vantagem para o
Estado da Guiné-Bissau, mas desde que não traga restrições na zona de pesca,
porque isso poderá impactar negativamente nas nossas atividades", afirmou
Ibraima Barros.
O jornalista da rádio comunitária Okimka
Pampa, na ilha de Orango Grande, Domingos Alves não tem dúvidas sobre "a
bondade" do reconhecimento para o arquipélago das Bijagós, mas já não tem
certeza sobre se o Estado da Guiné-Bissau terá a capacidade para fiscalizar as
atividades de pesca na zona envolvida, ilhas de João Vieira Poilão, Orango e
Formosa.
Domingos Alves apontou como estratégia
"a sensibilização contínua" das populações do arquipélago de Bijagós.
As ilhas, consideradas um tesouro
natural e cultural, fazem parte da lista de 32 sítios de todo o mundo
candidatos à Património Mundial, que vão conhecer a decisão da UNESCO, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, a 11 de Julho,
em França.
A 47.ª reunião do Comité do Património
Mundial decorre até 16 de Julho, na sede da UNESCO em Paris, França.ANG/Lusa

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