ONU/ UA pede missão de mediação
para término da guerra na Ucrânia
Bissau, 21 Set 22 (ANG) - A União Africana pediu terça-feira uma missão de mediação de alto nível para pôr fim à guerra na Ucrânia, para a qual se disponibilizou para contribuir, avisando que África não quer ser palco de uma nova Guerra Fria.
"Apelamos à desescalada e à cessação das hostilidades na
Ucrânia, por uma solução negociada, a fim de evitar o risco catastrófico de um
conflito potencialmente mundial. A negociação e a discussão são as melhores
armas de que dispomos para promover a paz. Lanço um apelo para a formação de
uma missão de mediação de alto nível para qual a União Africana [UA] está disposta
a dar o seu contributo", disse o Presidente do Senegal, Macky Sall,
presidente em exercício da UA.
No seu discurso no
debate na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, que terça-feira
começou, o líder africano disse ter uma mensagem de África: "Vim dizer que
África já suportou o suficiente do fardo da história. Que ela não quer ser o
foco de uma nova Guerra Fria".
Segundo Sall, o
continente quer ser antes "um centro de estabilidade e oportunidades,
aberto a todos os seus parceiros, numa base mutuamente benéfica".
Reconhecendo que existe
uma "África dos problemas", que precisa de ser pacificada e
estabilizada, o dirigente senegalês preferiu sublinhar a "África das
soluções", com 30 milhões de quilómetros quadrados, vastos recursos
humanos, mais de 60 por cento das terras aráveis do mundo e riquezas minerais,
florestais, hídricas e energéticas.
"Esta África de
soluções deseja envolver-se com todos os seus parceiros (...) transcendendo o
preconceito de que 'quem não está comigo está contra mim'", acrescentou.
Ao longo de um discurso
de cerca de 15 minutos em que falou sempre em nome da UA, Sall manifestou o
apoio da organização pan-africana ao secretário-geral da ONU, António Guterres.
Lembrou que desde a
anterior Assembleia-Geral das Nações Unidas "o mundo ficou mais perigoso e
mais incerto", com a conjugação de alterações climáticas, perigos
securitários e sanitários, além da guerra na Ucrânia.
Mas apelou ao Conselho
de Segurança para que "trate da mesma maneira todas as ameaças à paz e à
segurança internacional incluindo em África".
"O terrorismo que
ganha terreno no continente não é apenas um problema africano, é uma ameaça
global (...). Convidemos o Conselho a envolver-se connosco na luta contra o
terrorismo em África, com mandatos mais adaptados e meios mais
consequentes", disse.
Insistiu ainda na antiga
reivindicação africana sobre a necessidade de uma reforma do Conselho de
Segurança e da inclusão da UA no seio do G20, "para que África possa
finalmente ser representada onde se tomam decisões que afetam 1,4 mil milhões
de africanos".
Macky Sall manifestou a
preocupação da UA com o facto de a percepção de risco em África ser mais
elevado do que o real e renovou a proposta da organização para que o grupo de
resposta à crise mundial sobre alimentação, energia e finanças para que promova
um diálogo construtivo para as agências de notação.
"Face à dimensão
inédita da crise económica mundial, a União Africana reitera o seu apelo para a
realocação parcial dos direitos especiais de saque (SDR, na sigla em
inglês)" e da implementação da iniciativa do G20 para a suspensão do
serviço da dívida (DSSI, na sigla em inglês).
Referiu-se ainda ao
cancro como um "assassino silencioso" e apelou à mobilização para uma
campanha da Agência Internacional de Energia Atómica para melhorar a capacidade
dos países-membros africanos na luta contra o cancro através das tecnologias
nucleares, como a imagiologia médica, a medicina nuclear e a radioterapia.
Sobre a conferência das
partes da ONU sobre alterações climáticas (COP27), que decorre em Novembro no
Egipto, Sall renovou o compromisso da UA com o acordo de Paris, apelando a um
consenso para uma transição energética justa e equitativa.
"É legítimo, justo
e equitativo que África, o continente mais atrasado no processo de
industrialização e o menos poluente, explore os seus recursos disponíveis para
ter energia básica, para melhorar a competitividade da sua economia e para
alcançar o acesso universal à eletricidade", disse, lembrando que até hoje
mais de 600 milhões de africanos ainda vivem sem eletricidade.
Insistiu ainda na
necessidade de os países desenvolvidos cumprirem o compromisso há muito adiado
de apoiar os países em desenvolvimento com 100 mil milhões de dólares por ano
de financiamento de adaptação climática.
"Consideramos o
financiamento da adaptação, não como ajuda, mas como contributo dos países
desenvolvidos para uma parceria mundial solidária em contrapartida pelos
esforços dos países em desenvolvimento para evitar os esquemas poluentes que
mergulharam o planeta no atual estado de emergência climática", afirmou
Macky Sall.ANG/Angop
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