ONU/Guterres pede que crise
climática seja prioridade de governos
Bissau, 21 Set 22 (ANG) - O secretário-geral da ONU, António
Guterres, defendeu terça-feira que a crise climática deve ser prioridade máxima
de todos os governos e organizações multilaterais e pediu que as empresas de
combustíveis fósseis sejam responsabilizadas pela destruição do planeta.
"Há outra batalha que devemos encerrar - a nossa guerra suicida
contra a natureza. A crise climática é a questão definidora do nosso tempo.
Deve ser a primeira prioridade de todos os governos e organizações
multilaterais. E, no entanto, a ação climática está a ser colocada em segundo
plano - apesar do apoio público esmagador em todo o mundo", sublinhou
Guterres no seu discurso de abertura do debate geral da 77.ª sessão da
Assembleia-Geral da ONU.
De acordo com o líder
das Nações Unidas, as emissões globais de gases de efeito estufa precisam de
ser reduzidas em 45 por cento até 2030 para que exista alguma esperança de
chegar a zero até 2050.
"E, no entanto, as
emissões estão a subir em níveis recorde - a caminho de um aumento de 14% nesta
década. Temos um encontro com o desastre climático", anteviu, dando como
exemplo o cenário de destruição que encontrou na sua recente visita ao
Paquistão, onde um terço do país está submerso devido às graves inundações que
destruíram parte daquele território.
"Vemos isso em
todos os lugares. O planeta Terra é vítima das políticas de terra arrasada. O
ano passado trouxe-nos a pior onda de calor da Europa desde a Idade Média.
Gigantescas secas na China, nos Estados Unidos e noutros países. A fome
espreita no Corno de África. Um milhão de espécies em risco de extinção.
Nenhuma região é intocada. E ainda não vimos nada. Os verões mais quentes de
hoje podem ser os verões mais frescos de amanhã. Choques climáticos que ocorrem
uma vez na vida podem, em breve, tornar-se eventos anuais", disse António
Guterres.
Classificando a crise
climática como um caso de injustiça moral e económica, o ex-primeiro-ministro
português apontou diretamente o dedo ao G20 [as maiores e emergentes economias
do mundo], que responsabilizou por 80 por cento de todas as emissões de gases
de efeito estufa, cujos efeitos acabam por se manifestar nos países mais pobres
e vulneráveis -- aqueles que menos contribuíram para esta crise.
Enquanto isso, segundo
Guterres, a indústria de combustíveis fósseis celebra com "centenas de
milhares de milhões de dólares em subsídios e lucros inesperados, enquanto os
orçamentos das famílias encolhem e o nosso planeta arde".
De acordo com o
secretário-geral, o mundo está "viciado em combustíveis fósseis" e é
hora de uma "intervenção".
"Precisamos de
responsabilizar as empresas de combustíveis fósseis e seus facilitadores. Isso
inclui os bancos, fundos privados, gestores de ativos e outras instituições
financeiras que continuam a investir e a subscrever a poluição por carbono. E
inclui a enorme máquina de relações públicas que fatura milhares de milhões
para proteger a indústria de combustíveis fósseis do escrutínio",
denunciou.
Guterres fez uma
comparação directa com a indústria do tabaco, quando, há décadas, lobistas e
especialistas em propaganda espalharam "desinformação prejudicial"
sobre o setor.
"Os interesses dos
combustíveis fósseis precisam de gastar menos tempo a evitar um desastre de
relações públicas - e mais tempo a evitar um desastre de nível
planetário", declarou.
Admitindo que os
combustíveis fósseis "não podem ser cortados da noite para o dia",
Guterres indicou que uma transição justa significa não deixar nenhuma pessoa ou
país para trás e apelou a que os "poluidores paguem" pelas suas ações
contra o planeta.
"Hoje, peço a todas
as economias desenvolvidas que tributem os lucros inesperados das empresas de
combustíveis fósseis. Esses fundos devem ser redirecionados de duas maneiras:
para países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática; e para as
pessoas que enfrentam o aumento dos preços dos alimentos e da energia",
sugeriu, apelando ainda a todos os líderes para que cumpram os objetivos do
Acordo de Paris e elevem a sua ambição climática.
O líder da ONU defendeu
ainda que seja enfrentada a crise da biodiversidade e que os Oceanos sejam
protegidos.
O debate de alto nível
da 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU arrancou hoje, em Nova Iorque, com a
presença de chefe de Estado e de Governo de todo o mundo, e irá prolongar-se
até ao final da semana, com a guerra da Rússia na Ucrânia sob foco.
Além do conflito, também
as crises alimentar, energética e climática, e as tensões China-Estados Unidos
estarão em destaque nesta semana de alto nível.ANG/Angop
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