Rwanda/Acusação aponta papel de
Kabuga no massacre de tutsis
Bissau, 30 Set 22 (ANG) - O alegado financiador do genocídio
rwandês de 1994 Félicien Kabuga teve um "papel substancial" no
massacre étnico da minoria Tutsi, afirmou esta quinta-feira a acusação durante
a abertura do seu julgamento em Haia.
"Vinte e oito anos após os acontecimentos, este julgamento
visa responsabilizar Félicien Kabuga pelo seu papel substancial e intencional
no genocídio", disse o procurador Rashid S. Rashid a um tribunal das
Nações Unidas.
O ex-empresário de 87
anos, que apareceu com ar frágil e numa cadeira de rodas durante uma audiência
em Agosto, não esteve hoje presente perante os magistrados.
Félicien Kabuga, um dos
últimos suspeitos principais do massacre que dilacerou o país africano, era um
dos homens mais ricos do Rwanda em 1994. Está a ser julgado por ter utilizado a
sua riqueza e redes para levar a cabo o genocídio que deixou mais de 800 mil
mortos, de acordo com a ONU, principalmente entre a minoria Tutsi.
Em 1994, Kabuga foi
presidente da Rádio Télévision Libre des Mille Collines (RTLM), que emitiu
apelos para o assassínio de tutsis.
Preso em 2020 perto de
Paris, após 25 anos em fuga, é acusado de ter participado na criação da milícia
hutu interahamwe, a ala armada do regime genocida hutu.
"Para apoiar o
genocídio, Kabuga não precisou de brandir uma arma ou uma catana num bloqueio
de estrada. Em vez disso, entregou armas em massa e facilitou o treino que
preparou a Interahamwe para as utilizar", disse Rashid.
"Ele não precisou
de pegar num microfone para pedir o extermínio de tutsis na rádio, mas sim
fundou, financiou e serviu como presidente da estação de rádio RTLM que
difundia propaganda genocida em todo o Ruanda", acrescentou.
O seu julgamento começou
às 10h00 de hoje (menos uma hora em Angola) perante o mecanismo internacional a
desempenhar as funções residuais dos tribunais penais, que é responsável pela
conclusão dos trabalhos do Tribunal Penal Internacional para o Rwanda (TPIR).
O julgamento arrancou
com as declarações de abertura, que serão seguidas, a partir de 05 de Outubro,
pela apresentação de provas.
Félicien Kabuga é
acusado de genocídio, incitação directa e pública à prática de genocídio e
crimes contra a humanidade, incluindo perseguição e extermínio.
Kabuga declarou-se
inocente na sua primeira audiência em tribunal em 2020. Os seus advogados
tentaram livrá-lo de um julgamento por causa da sua saúde, mas os magistrados
decidiram que a sua saúde não era incompatível com o julgamento.
Mais de um quarto de
século após o genocídio que chocou o mundo, o julgamento de Félicien Kabuga é
ansiosamente aguardado no Rwanda, particularmente na sua aldeia natal de
Nyange, a noroeste de Kigali.
Filho de pais
agricultores, começou como um pequeno comerciante itinerante antes de se tornar
um homem de negócios rico, dono de numerosas plantações de chá.
"Estamos ansiosos
por este julgamento, que já vem de há muito tempo", disse Anastase
Kamizinkunze, um executivo da principal associação de sobreviventes do
genocídio do Ruanda, Ibuka.
A acusação apresentará
mais de 50 testemunhas no julgamento de Félicien Kabuga, um dos últimos
suspeitos chave no genocídio ruandês a ser levado a julgamento, após 62
condenações já proferidas pelo TPIR. ANG/Angop
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