Guantanamo/Detidos sujeitos a tratamento cruel, desumano e degradante
Bissau, 27 Jun 23 (ANG) – O tratamento dos últimos 30 detidos em Guantanamo é “cruel, desumano e degradante”, denunciou na segunda-feira uma perita da Organização das Nações Unidas (ONU), depois da primeira visita do género a esta prisão militar dos EUA.
Depois de duas décadas de solicitações
infrutíferas de peritos independentes de direitos humanos da ONU, a relatora
especial sobre os direitos humanos e a luta antiterrorista, Fionnuala Ní
Aoláin, foi finalmente autorizada a efetuar esta visita em fevereiro.
O seu relatório, divulgado na
segunda-feira, descreve, apesar de “melhorias importantes” do centro de
detenção, “uma vigilância quase constante, extrações forçadas das celas,
utilização excessiva de meios de contenção”, “carências estruturais em matéria
de saúde, acesso desadequado às famílias” e “detenções arbitrárias
caracterizadas pela continuação de violação do direito a um processo
equitativo”.
Em conferência de imprensa, Fionnuala
Ní Aoláin disse que “a totalidade de todas estas práticas e negligências (…)
têm efeitos agravantes cumulativos sobre a dignidade, as liberdades e os direitos
fundamentais de cada detido, o que equivale a tratamentos cruéis, desumanos e
degradantes”.
Disse ainda que “o fecho deste
estabelecimento continua a ser uma prioridade”, saudando a propósito “a
abertura e a vontade dos EUA de dar o exemplo”, ao permitir a sua visita.
Os peritos independentes de direitos
humanos da ONU procuram ter acesso a esta prisão militar, no sudeste de Cuba,
desde a sua abertura em 2002, para averiguarem as condições dos detidos durante
“a guerra ao terrorismo” conduzida pelos EUA, no seguimento dos atentados de 11
de setembro de 2001.
Tornada uma espinha no pé de
Washington, acusada de detenções ilegais, violações dos direitos humanos e
tortura, a prisão chegou a ter 800 “prisioneiros de guerra”, na sua maior parte
detidos apesar de provas frágeis da sua implicação.
Fionnuala Ní Aoláin também se
pronunciou sobre o seguimento das vítimas do 11 de setembro, apontando que
continuava a ser necessário para respeitar o seu “direito à reparação”.
No seu texto, realçou que a prática de
tortura, em “sítios negros” (prisões clandestinas) e depois em Guantanamo,
“representa o principal obstáculo para o direito das vítimas à justiça”.
ANG/Lusa
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