Chade/Governo expulsa activista de
defesa dos Direitos Humanos, Reed Brody
Bissau, 04 Out 24 (ANG) - O advogado
americano e activista da Human Rights Watch, Reed Brody,
foi expulso quinta-feira do Chade, numa altura em que se encontrava na capital
do país para apresentar o seu livro intitulado "A perseguição
de Hissène Habré: julgar um ditador num mundo de
impunidade", acerca da luta que travou para fazer julgar e condenar
o antigo ditador chadiano.
No âmbito desta apresentação organizada pela embaixada dos
Estados Unidos no Chade que devia decorrer no Centro de Estudos de Treinamento
para o Desenvolvimento, estava igualmente previsto que o jurista de 71 anos
animasse um painel com uma colega do Chade, a
advogada Jacqueline Moudeina.
Todavia, antes que a conferência começasse, a polícia evacuou o
anfiteatro e colocou o advogado dentro de um veículo que o levou para a
Direcção Geral de Inteligência e Investigação (DGRI), os serviços secretos do
Chade, fontes policiais indicando que ele foi levado, de seguida, para o
aeroporto e forçado a embarcar num voo da Air France rumo a Paris no
início da noite.
Questionada sobre as circunstâncias da interpelação do militante
de defesa dos Direitos Humanos, a advogada Jacqueline Moudeina disse não
ter conhecimento dos motivos desta decisão das autoridades que até a tarde
desta quinta-feira não tinham comunicado sobre o sucedido.
Reagindo a esta ocorrência, o conselheiro nacional e antigo
presidente da Associação das vítimas de Hissène Habré, Clément Abaïfouta,
denunciou "uma
vergonha para o país".
Reed Brody foi um elemento central do processo que
levou ao julgamento e condenação de Hissène Habré por Crimes contra a
Humanidade em 2016 por um tribunal especial, sendo que a
advogada Jacqueline Moudeina defendeu, como ele, as vítimas do
ex-presidente chadiano.
No poder de 1982 a 1990, até ser deposto pelo pai do
actual chefe de Estado, Hissène Habré foi condenado a 30 de Maio
de 2016 à prisão perpétua após ser declarado culpado de Crimes contra a
Humanidade, violações, execuções, trabalho forçado e sequestro.
Uma comissão de inquérito chadiana estimou em 40 mil o número de
mortos causados pelo regime do antigo ditador que faleceu em Dakar em Agosto de
2021.
A interpelação ontem de Reed Brody aconteceu numa
altura em que existe um intenso debate sobre a eventual repatriação do corpo
de Hissène Habré, actualmente sepultado em Dakar, e sua possível
reabilitação. Isto sucedeu igualmente quando a junta no poder em
N'Djamena acaba de anunciar no final de Fevereiro o pagamento de 10 bilhões de
francos CFA de indemnização para as vítimas do antigo ditador, sendo
que diferentes tribunais têm reclamado o pagamento de valores bem superiores,
ou seja, mais de 100 bilhões de francos CFA.
Por outro lado, ONGs nacionais e internacionais
denunciam regularmente as "violações
dos Direitos Humanos" e
a "repressão", por vezes sangrenta, que
persistem neste país da África central.
Em meados do mês passado, a Organização Mundial contra a Tortura (OMCT) deu conta de um aumento das detenções e prisões extrajudiciais por parte dos serviços de inteligência chadianos.ANG/RFI
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