Angola/João Lourenço pede desculpas por execuções sumárias do 27 de Maio de 1977
Bissau, 27 Mai
21 (ANG) - O Presidente angolano, João Lourenço, pediu "desculpas em nome
do Estado angolano pelo grande mal que foram as execuções" durante o
massacre de 27 de Maio de 1977 que pode ter provocado cerca de 30 mil vítimas.
“Não é hora de nos apontarmos o dedo
procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na
parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das
vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do
Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as
execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano.
João Lourenço falou ao país numa
comunicação transmitida pela Televisão Pública de Angola, na véspera da
passagem dos 44 anos sobre os massacres de milhares de angolanos de 27 de Maio
de 1977, que será pela primeira vez assinalado com uma homenagem em memória das
vítimas.
“O pedido público de desculpas e de perdão
não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade
de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação
quanto aos seus entes queridos”, acrescentou.
O pedido de desculpas era uma reclamação
dos sobreviventes e das organizações que representam as vítimas e os seus
descendentes, agrupadas na Plataforma 27 de Maio.
João Lourenço anunciou ainda que terá
início esta quinta-feira o processo de entrega das primeiras certidões de
óbito aos familiares e nos próximos dias o processo de localização dos restos
mortais e ossadas de figuras destacadas envolvidas na alegada tentativa de
golpe, como Nito Alves, Sita Vales, José Van Dunem, antigos militares e outras
vítimas do 27 de Maio, para exumação e entrega aos familiares.
Embora não seja possível localizar todas
as vítimas, o Presidente angolano garantiu que vão ser feitos todos os esforços
para que as famílias possam realizar um funeral condigno, pedindo a compreensão
de todos para os casos em que não for possível atingir este objectivo.
Em Abril de 2019, o Presidente angolano
ordenou a criação de uma comissão (a CIVICOP), para elaborar um plano geral de
homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11
de Novembro de 1975 e 04 de Abril de 2002 (fim da guerra civil).
Com a ajuda das tropas cubanas, o regime deteve e matou milhares de pessoas,
cujo total ainda se desconhece. Há quem estime que cerca de 30 mil pessoas
poderão ter sido assassinadas no que foi considerada uma purga dentro do MPLA,
partido no poder.
Em 27 de Maio de 1977, uma alegada
tentativa de golpe de Estado, numa operação que terá sido liderada por Nito
Alves - então antigo ministro do Interior desde a independência (11 de
Novembro de 1975) até Outubro de 1976 -, foi violentamente reprimida pelo
regime de Agostinho Neto. ANG/RFI
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