Clima/Árctico aquece a ritmo três
vezes superior ao resto do planeta
Bissau, 20 Mai 21 (ANG) – A temperatura no Árctico está a aumentar três
vezes mais depressa que no resto do planeta e a tendência irá manter-se, de
acordo com um relatório científico divulgado hoje.
A hipótese de a camada
de gelo marinho derreter completamente no verão antes de se restabelecer no
inverno será seis vezes mais provável se a temperatura da terra aumentar dois
graus centígrados em vez de 1,5 graus até ao final do século, como estabelecido
no Acordo de Paris, refere-se ainda no relatório do Programa de Vigilância e
Avaliação do Árctico.
O documento foi revelado
hoje na capital da Islândia, Reiqueiavique, numa reunião ministerial do
Conselho do Árctico (em que estão representados os países com território na
região).
“O Árctico é realmente
um ponto quente do aquecimento global”, afirmou o glaciólogo Jason Box, do Serviço
Geológico da Dinamarca e Gronelândia, registando-se ali 3,1 graus centígrados
de aumento da temperatura média anual entre 1971 e 2009, quando no planeta esse
aumento foi de um grau.
Em 2019, a versão
anterior do relatório indicava que o aumento da temperatura no Árctico estava
em mais do dobro da média mundial.
De acordo com os
investigadores que contribuíram para o relatório, houve um ponto de viragem em
2004 que continua por explicar, em que a temperatura em torno do Círculo Polar
Árctico começou a aumentar a um ritmo 30 por cento superior.
Actualmente, a região
regista “episódios de calor invernal mais frequentes e mais longos”, disse
Jason Box à agência France Presse, com sistemas meteorológicos, incluindo ondas
de calor, que a afectam sobretudo nos períodos em que normalmente o gelo se
forma, em maio e Outubro.
Segundo projecções no
relatório, as temperaturas médias no Árctico poderão até ao fim do século
aumentar entre 3,3 e 10 graus em relação à média do período entre 1985 e 2014,
dependendo da evolução das emissões de gases com efeito de estufa.
Mesmo sem saber como
evoluirão, estas alterações têm consequências que já se fazem sentir nos
ecossistemas, com modificações dos ‘habitats’, dos hábitos alimentares e das
interacções entre espécies e suas migrações.
Da Sibéria ao Alaska, os
fogos florestais incontroláveis são um problema habitual e “o fumo que produzem
contém dióxido de carbono e partículas de carbono negro que também aceleram as
alterações climáticas”, afirmou o investigador norte-americano Michael Young.
O impacto do aquecimento
acelerado do Árctico sente-se no resto do mundo e de forma especialmente aguda
nas vidas dos quatro milhões de pessoas que ali vivem, especialmente as
populações indígenas.
“Os caçadores do
nordeste da Gronelândia queixam-se que agora só têm três meses por ano em que
conseguem deslocar-se nos trenós puxados por cães, quando antes tinham cinco”,
relatou a directora do Centro de Avaliação e Política do Clima do Alaska, Sarah
Young.
A responsável
acrescentou que os caçadores e pescadores canadianos e russos apanham focas
cada vez mais magras e mais animais doentes.
A diminuição do gelo
abre oportunidades económicas que os ambientalistas temem, como novas zonas de
pesca, novas rotas marítimas comerciais e acesso facilitado a reservas de petróleo,
gás natural e minerais.ANG/Inforpress/Lusa
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