Ruanda/Macron reconhece "as responsabilidades" da França no
genocídio de 1994
Bissau, 27 Mai
21 (ANG) - O Presidente francês Emmanuel Macron afirmou esta quinta-feira, 27
de Maio, no Ruanda que reconhece "as responsabilidades" da
França no genocídio de 1994, em particular por ter optado durante "muito
tempo pelo silêncio em vez da verdade".
O Presidente francês está em visita ao
Ruanda, presente esta manhã no Memorial do Genocídio Emmanuel Macron admitiu
erros de Paris no decurso dos eventos em 1994 e afirmou esperar o perdão pelos
mesmos.
O chefe de Estado do Ruanda, Paul Kagamé,
por seu lado, afirmou que o discurso do seu homólogo foi de uma grande coragem
e teve mais valor do que um pedido de desculpas.
"Hoje aqui, com humildade respeito,
venho reconhecer nossas responsabilidades", afirmou Emmanuel Macron num discurso muito aguardado
no Memorial do Genocídio em Kigali.
"Os assassinos que ensombraram as
colinas, as igrejas não tinham o rosto da França. Ela não foi cúmplice. O
sangue derramado não desonrou as armas nem as mãos dos seus soldados. Estes
viram também com os próprios olhos perpetrar-se o indescritível, estancaram
feridas e abafaram as suas lágrimas", disse.
"A França tem um papel, uma história
e uma responsabilidade política no Ruanda", declarou o chefe de Estado francês que
reconheceu "as nossas responsabilidades, reconhecer este passado é
também e, sobretudo, prosseguir um trabalho de justiça".
Emmanuel Macron é o primeiro Presidente
francês desde 2010 a visitar o Ruanda, que durante muito tempo acusou a França
de cumplicidade na morte de 800.000 ruandeses, a maioria Tutsi.
A França compromete-se "a que
nenhuma pessoa suspeita de crimes de genocídio possa escapar ao trabalho dos
juízes. Só os que atravessaram a noite podem, talvez, perdoar. E nos
possam, então, brindar com a dádiva de nos perdoarem."
O papel da França antes, durante e depois
do genocídio de Ruanda é um tema sensível há anos, e chegou a provocar a
ruptura das relações diplomáticas entre Paris e Kigali entre 2006 e 2009.
Um relatório de historiadores
publicado em Março e coordenado por Vincent Duclert concluiu que a França
tinha "responsabilidades pesadas e avassaladoras" e
que o então Presidente socialista François Mitterrand e os seus políticos "fecharam
os olhos" pela deriva racista e genocida do governo hutu,
então apoiado por Paris.
A associação de sobreviventes do
Ibuka lamentou a falta de um pedido de "desculpas" de
Emmanuel Macron. No Memorial do Genocídio, repousam os restos mortais de
250.000 das mais de 800.000 vítimas de uma das tragédias mais sangrentas do
século XX.
Com este discurso, o Presidente francês
vai mais longe que seus antecessores, em particular Nicolas Sarkozy, o único
Presidente francês a ter viajado para Kigali desde o genocídio de 1994. Nicolas
Sarkozy reconheceu, na altura, "graves erros" e
"uma forma de cegueira" das autoridades francesas, que
tiveram consequências "absolutamente dramáticas".
Para o presidente de Ruanda, Paul Kagame,
que liderou a rebelião tutsi que pôs fim ao genocídio, o relatório dos
historiadores marcou uma mudança de rumo nas relações entre os dois países.
Durante visita à França na semana passada,
Paul Kagame declarou que o informe abriu o caminho para que França e Ruanda
tenham "uma boa relação". "Posso viver com
as conclusões do relatório", disse Kagame em entrevista à RFI e France
24.
Para concretizar a normalização das
relações bilaterais, os dois Presidentes chegaram a um acordo sobre o
regresso de um embaixador francês a Kigali. O posto que está vago desde 2015.
Depois de Ruanda, Emmanuel Macron segue
para a África do Sul, onde se reunirá com o Presidente Cyril Ramaphosa para
abordar a luta contra a pandemia da Covid-19 e seu impacto na economia mundial.
ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário