Visita do presidente português/“Nem sempre Portugal foi capaz de lidar bem com o seu passado colonial”, diz Marcelo Rebelo de Sousa
Bissau,19 Mai 21(ANG) - O
Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa,
admitiu que nem sempre Portugal foi capaz de lidar com o
seu passado colonial de forma eficaz e bem, não obstante ao
longo da sua história, ter criado plataformas de culturas,
civilizações, Oceanos e Continentes, apesar de nem sempre bem e
muitas vezes mal.
Marcelo Rebelo de Sousa expressou esse sentimento na sua declaração conjunta com o Chefe de Estado da Guiné Bissau, Úmaro Sissoco Embaló, no Palácio da República, no âmbito da sua visita de pouco menos de 24 horas à Bissau.
Enfatizou que a
Guiné-Bissau não encontrará nenhum país capaz de fazer plataformas em
culturas, civilizações, Oceanos e continentes, para além de Portugal.
“Fê-lo ao longo da sua
história, mas nem sempre bem e muitas vezes mal. O passado colonial é um
passado que nós assumimos em plenitude, mesmo naquilo que não foi positivo, mas
é isso que explica essa plataforma”, assinalou e disse que “ só há política,
porque o povo quer”.
Momentos antes de
proferir a sua declaração, Marcelo de Sousa foi condecorado pelo chefe de
Estado guineense com a medalha de “Amílcar Cabral”, a mais alta distinção do
país.
Em retrospetiva aos
acontecimentos que o trouxeram muitas
vezes à Guiné-Bissau, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que quando
chefiou uma delegação da Faculdade de Direito de Lisboa e
de Coimbra, abriu caminho para a criação da Escola de Direito na
Guiné-Bissau.
Adiantou que, só quando
regressou à Bissau como político e líder partidário é que usou o
seu papel para estreitar o relacionamento entre o
partido no poder e o partido que representava, que vinham
de hemisférios completamente diferentes, mas que se entediam no
essencial para se entenderem naquilo que era mais
importante para a Guiné-Bissau e Portugal.
O chefe de
Estado de Portugal disse que foram anos em que foi
difícil esquecer tudo, porque “foi difícil não amar a Guiné-Bissau e deixar
alguns amigos desses tempos”.
“Os tempos mudam, mudou
a Constituição. Prosseguiu Nino Vieira, prosseguiram as minhas
vindas cá e hoje muita coisa mudou quer na realidade portuguesa, quer
na realidade da Guiné-Bissau. Transitoriamente sou Presidente da República
portuguesa e transitoriamente, V.Exa., Presidente da República da
Guiné-Bissau”, frisou.
Sublinhou que são protagonistas
de uma história que lhes ultrapassa e onde “eu me sinto, em
termos de biografia, ter-me cruzado com a Guiné-Bissau muito antes de
vir cruzar-me como Presidente da República Portuguesa”.
A terceira ideia que Marcelo
de Sousa destacou, depois ter sido condecorado com a medalha “ Amílcar Cabral”
tem a ver com o fato de a condecoração com a medalha Amílcar Cabral
existir em dois países, dois Estados: Guiné-Bissau e Cabo Verde, ambos
herdeiros do legado do “ grande líder, que é Amílcar Cabral”, que
quis o destino que a tivesse recebido em Cabo Verde, uns anos atrás, e
vir recebê-la hoje na Guiné-Bissau.
Para o chefe de Estado de
Portugal, essas condecorações simbolizam o peso desses dois países no contexto
africano, sobretudo na África Ocidental, representando uma das três famílias linguísticas
da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), ao lado da
família francesa, inglesa e da família da língua portuguesa.
Perante estes fatos, Marcelo
diz esperar que seja possível, no futuro chegar à presidência da CEDEAO,
alguém que resulte dessa língua, dessa linha e dessa família, “uma
vez que as outras famílias têm chegado com frequência a essa presidência.
O chefe de Estado da
República Portuguesa destacou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP ) como o maior ponto de união entre os países desta comunidade,
tendo desafiado Úmaro Sissoco Embaló a encarar esse
sentimento com que Portugal e outros países membros têm encarado a CPLP,
portanto “ são tantas as razões que nos unem”.
E no quadro de trabalho em
união, Marcelo de Sousa enumerou algumas áreas prioritárias nas
quais será assente a cooperação entre os dois países, nomeadamente,
na saúde, “que tanto nos preocupa e ainda com a pandemia”, na educação,
com a criação de uma escola portuguesa em Bissau, na formação, na reforma
administrativa, no aperfeiçoamento do estado de direito democrático, no quadro
da nossa vivência da CPLP e deve ser cada vez mais no futuro, nas
infraestruturas, nas águas ou energias renováveis, no turismo, no mar e no
setor das pescas.ANG/O Democrata
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