Àfrica do Sul/Sanções à Rússia potenciam mercado negro de armas em África, diz investigador
Bissau, 29 Mar 22 (ANG) - O director do Centro de Estudos Militares da Universidade sul-africana de Stellenbosch da África do Sul, Moses B. Khanyile, disse segunda-feira que as sanções impostas à Rússia, no seguimento da invasão da Ucrânia, podem fazer aumentar o mercado negro de armas em África.
Num artigo
disponibilizado aos jornalistas, Moses B. Khanyile, citado pelo Notícias ao
Minuto, afirma que "a perturbação na oferta de equipamento militar
devido às sanções pode facilitar e promover um enorme mercado negro na
transferência de armas, o que pode ser difícil de reverter mesmo depois do fim
da guerra entre a Rússia e a Ucrânia".
“O fim das transacções
transparentes entre África e a Rússia de equipamento e serviços militares
deverá fazer o mercado negro florescer, revertendo os ganhos alcançados pelo
Programa de Acção das Nações Unidas para o Desarmamento e a estratégia da União
Africana (UA) de combate ao tráfico ilegal de armas.
O investigador lembra
que "muitas armas pequenas e ligeiras, como as espingardas de assalto M16
e M4, as espingardas dos atiradores furtivos, metralhadoras e pistolas
inundaram o mercado negro depois da retirada dos Estados Unidos do Iraque e do
Afeganistão".
Khanyile estima que
quase metade do equipamento militar que os países africanos compram ao estrangeiro
vem da Rússia (49%), incluindo tanques, navios de guerra, aviões e helicópteros
de combate, mas também metralhadoras e espingardas.
De acordo com o
relatório anual do Instituto de Pesquisa para a Paz, em Estocolmo, o comércio
mundial de armas valeu 118 mil milhões de dólares (107 mil milhões de euros) em
2019", com a Rússia, Estados Unidos, França, Alemanha e China a
representarem 76% do total de exportações entre 2016 e 2020.
"A Rússia tem uma
quota de mercado de 20% em África, suplantada pelos Estados Unidos, com 37%,
seguida da França (8,2%), Alemanha (5,5%) e China (5,2%), escreve ainda o
investigador.
Acrescenta que os países
africanos compram apenas 7,3% das armas mundiais, bem atrás da Oceânia (42%),
do Médio Oriente (33%) e da Europa (12%).
A Rússia, nota Moses B.
Khanyile, capitalizou as ligações próximas baseadas nas ligações históricas
desde os dias da União Soviética e "negoceia armas com relativa
facilidade, com a estrutura de preços e a falta de condicionamentos políticos,
como os direitos humanos, a tornarem as vidas atractivas e acessíveis".
Com a imposição de
sanções, nem as vendas nem as reparações das armas e dos equipamentos militares
serão possíveis, pelo que o investigador vê aqui uma oportunidade para a
indústria de defesa africana.
"A procura por
equipamento e serviços militares vai continuar a existir apesar da saída ou da
suspensão da participação da Rússia, o que é uma oportunidade ideal para os
países africanos consolidarem e alinharem as capacidades da sua indústria de defesa
com a sustentabilidade", seja através do desenvolvimento de um mercado
interno, seja através da mediação da União Africana para disputas que possam
surgir entre compradores e vendedores africanos.
"Os países
africanos devem, por tudo isto, fazer um esforço concertado e apoiar as
empresas de defesa no continente, com a União Africana e a África do Sul, em
particular, dada a sua ligação aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul), a dever desempenhar um papel central nesta campanha", conclui.
A Rússia lançou em 24 de
Fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.119 civis,
incluindo 139 crianças, e feriu 1.790, entre os quais 200 crianças, segundo os
mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de
vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga
de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8 milhões de refugiados em países
vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca
de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
ANG/Angop
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